O corpo a corpo na relação educativa entre babá e criança: uma revisão da literatura

Abstract

Resumo O presente estudo exploratório sobre o caráter educativo do trabalho doméstico de cuidado de crianças focaliza especificamente o processo de construção dos corpos-identidades que se faz presente na interação entre a mulher babá e a criança sob seus cuidados. Para tanto, reúne e coloca em diálogo estudos produzidos nos campos da Educação, Psicologia, Sociologia e História. Tal mapeamento visa contribuir para a desnaturalização da imagem estereotipada do cuidado infantil enquanto tarefa feminina e para a valorização desse trabalho formativo realizado em espaço doméstico. O panorama desenhado abre uma série de questões a serem perscrutadas no sentido de elucidar o que está em jogo no corpo a corpo desse encontro.

Práticas De Cuidado Infantil De Babás, Babysitters E Nannies Nos Contextos Brasileiro E Português

“…(Ind.02); "...cuidado com a higiene, higiene pessoal, higiene das coisas dele, trabalho então com muito amor, com muito carinho, como se fosse minha própria filha, meu próprio filho... Então assim, é como se eles fizessem parte realmente de mim..."(Ind.08); "...Quando a gente é babá, a gente passa a ser a segunda mãe..."(Ind.12). A questão afetiva é um ponto delicado para as babás, isso porque o cuidado com crianças pode deslocar o afeto que deveria ser proporcionado aos próprios filhos (Kondratiuk & Neira, 2020). Além disso, para as babás, o cuidado com a criança, parece ser destinado à mãe, o que pode ocasionar em uma sobrecarga de papéis.…”

“…Ainda é possível relacionar o trabalho da babá com o da empregada doméstica, uma vez que em muitos lares, elas acabam realizando funções relativas à limpeza, alimentação da família (Kondratiuk & Neira, 2020). Destarte, a dupla jornada de trabalho pode ser um fator de exaustão e esgotamento físico e emocional, sem levar em consideração, os trabalhos que podem ser exercidos em seu lar (Pinheiro et al, 2021).…”

“…Ela virou para mim que sabia que tinha um filho, mas não queria que eu amamentasse o filho dela..." (Ind.15). Esse discurso revela como o cuidado apresenta características que envolve emoções, afetos, hábitos, que permeiam a relação entre a babá e a criança, além disso, demonstra a contradição da vivência materna, que se ausenta do lar a fim de atender determinadas demandas pessoais, profissionais e culturais (Kondratiuk & Neira, 2020).…”

“…Há ainda questões que permeiam a invisibilidade dessas trabalhadoras, o aspecto da ambivalência vivida na relação com a mãe da criança e, a própria relação estabelecida com a criança, a fim de atender suas demandas.Nos Estados Unidos, a fronteira que delimita o trabalho entre babás e empregadas domésticas parece ser mais demarcada, com atribuições e horários predeterminados, principalmente quando a atividade é desempenhada por uma babá especializada. Entretanto, há questões relativas a própria situação legal da trabalhadora estrangeira, que muitas vezes fica à margem dos direitos civis e políticos(Kondratiuk & Neira, 2020).De acordo com Kondratiuk e Neira (2020), o papel da babá como educadora ainda parece pouco explorado no campo da Educação e da Psicologia. Os estudos encontrados demonstram que a função de educar, cuidar e acompanhar a criança, perpassa a bagagem pessoal, incluindo seu modo de ser, seus valores culturais.…”

“…O trabalho da babá, envolve uma vivência, muitas vezes, intensa, que demanda mais do que o simples "ato de cuidar". Nesse sentido, os sentimentos que são compartilhados, os hábitos, os gestos, o tom da voz, demonstram a singularidade da relação estabelecida com criança(Kondratiuk & Neira, 2020). já tenho uma ligação maior com as crianças..." (Ind.13 Portugal).…”