O cuidado da população LGBT na perspectiva de profissionais da Atenção Primária à Saúde

Abstract

Resumo As pessoas LGBT se deparam com dificuldades e barreiras que prejudicam o acesso aos serviços de saúde. A falta de preparo e de sensibilidade dos profissionais, nesse contexto, são alguns dos elementos que reiteram as iniquidades em saúde e a vulnerabilidade desses corpos. Para conhecer esse fenômeno, entrevistamos 15 trabalhadores da Atenção Primária à Saúde e analisamos suas falas seguindo a perspectiva da análise do discurso foucaultiana. Os resultados evidenciaram que, apesar de os profissionais conhecerem a temática, eles usam estratégias discursivas que velam seus preconceitos e resistências, dificultando o reconhecimento das possibilidades de agência na transformação dessa realidade. A mobilização de categorias relativas às identidades e aos direitos sexuais em seus discursos indica deslocamentos no regime de sexualidade contemporâneo que devem ser considerados em intervenções de educação em saúde. A implicação de cada um na materialização das diferenças que marcam o campo sexual se demonstrou, nesse sentido, fundamental para discussão de formas de cuidado que sejam verdadeiramente acolhedoras e que não reforcem as desigualdades dos corpos que desafiam o binarismo e a heteronormatividade social.

Atenção à saúde da população LGBTQIA+ visando o acesso integral aos serviços de saúde

“…As reiteradas violações de seus direitos e a exclusão social geram sofrimento, adoecimento e morte prematura (Lionço, 2008;Cardoso & Ferro, 2012). A despeito de apresentarem piores condições de saúde do que a população geral, o acesso e a utilização dos serviços assistenciais são caracterizados por dificuldades e barreiras (Gonzales et al, 2016;Costa-Val et al, 2022).…”

“…Considera-se que a falta de preparo dos profissionais coopera para que a assistência ocorra de forma escassa e pouco acolhedora (Barbosa & Facchini, 2009;Valadão & Gomes, 2011). Há, ainda, a ideia equivocada de que essas mulheres apresentam risco diminuído para desenvolvimento de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e de câncer de colo uterino (Almeida, 2009), fato que colabora para que elas não busquem os serviços de saúde (Costa-Val et al, 2022).…”

“…De modo geral, a expectativa de vida destes é de 35 anos, isto é, menos do que a metade da média de vida da população nacional (Benevides & Nogueira, 2020). Ao considerarmos outras formas de violência como as expulsões de casa, o acesso à educação, e aos serviços de saúde, esses dados tornam-se mais alarmantes, uma vez que o preconceito, a discriminação, o não reconhecimento do nome social, e o tratamento de forma "patologizante", os achados tornam-se ainda mais alarmantes e incidem em recorrentes motivos para que não procurem cuidados formais em saúde (Costa-Val et al, 2022).…”

Importância Da Educação Em Saúde Frente À Promoção E Prevenção À Saúde Da População Lgbtqia+

“…Observou-se que a população LGBTQIA+ enfrenta, além de toda a discriminação e violência, piores condições de saúde em relação às demais pessoas, o que acarreta no distanciamento dos serviços de saúde, contribuindo para os índices de morte prematura e por causas evitáveis. Com isso, mulheres lésbicas buscam menos serviços de atenção à mulher quando comparadas a mulheres heterossexuais e, como consequência disso, tendem a realizar menos exames preventivos do câncer de colo de útero (COSTA-VAL et al, 2022), fato que representa um significativo problema de saúde pública. Logo, é preciso investir na educação em saúde com ênfase nas atividades de prevenção e promoção, a fim de modificar tal cenário problemático.…”

“…É preciso minimizar as barreiras que prejudicam o acesso aos serviços de saúde, incluindo aspectos da falta de preparo dos profissionais que precisam ser superados, especialmente no que tange à captação desse público, tendo em vista que os avanços em relação ao acesso à saúde nem sempre são considerados suficientes para prestar assistência necessária (BEZERRA et al, 2019;COSTA-VAL et al, 2022).…”