O estudo concreto da atenção e seu desenvolvimento em contexto escolar: aspectos metodológicos

Abstract

Diante da necessidade da superação de propostas organicistas e medicalizantes para a compreensão de supostos transtornos neurobiológicos relacionados a queixas de desatenção e hiperatividade/impulsividade, lançou-se mão neste artigo de referenciais do materialismo histórico-dialético e psicologia histórico-cultural, objetivando sistematizar a organização metodológica desenvolvida na tese de doutorado de Ferracioli (2018), no sentido de um estudo empírico no campo da psicologia concreta. Através de experimento formativo com coleta de dados em campo junto a alunos/as e professoras do segundo ano do Ensino Fundamental de uma escola municipal, identificou-se os determinantes pedagógicos responsáveis por melhor promover o desenvolvimento da atenção voluntária em contexto escolar. No entanto, o foco deste artigo está direcionado para os procedimentos elaborados para esta investigação, apresentados em três momentos fundamentais: empírico, abstrato e concreto. Os resultados indicaram que a atenção voluntária é consequência do ensino, observando-se significativa ampliação das capacidades atencionais e escolares dos sujeitos participantes, o que permitiu ao pesquisador constatar, no cerne dessas mudanças, a centralidade do processo de internalização de signos/conteúdos na atividade de estudo, assim como indicar formas de organização do ensino mais apropriadas ao desenvolvimento da atenção voluntária. Por fim, a partir dos resultados, fez-se uma crítica à cientificidade de concepções organicistas e medicalizantes em educação.

Experimentos E Psicologia Soviética: Uma Antítese Metodológica Equivocada

“…Não raro, esses estudos recentes apresentam a perspectiva dos experimentos formativos elaborada por Davidov (1988a) e dedicam-se à organização de pesquisas que investigam a relação entre a estrutura didática, a intencionalidade como característica da atividade docente e o processo de desenvolvimento das funções psíquicas superiores (Longarezi, 2017;Kravtsov & Kravtsova, 2019;Ferracioli, Trindade, & Magalhães, 2020) Por isso, delimitamos a delicadeza do anúncio que fazemos porque, ao mesmo tempo em que revela-se o crescimento das pesquisas que tomam a noção de experimentação no interior da Psicologia Histórico--Cultural, especialmente no campo da educação, nota-se que a apropriação dessa noção, por vezes, não a insere no âmbito das discussões metodológicas que parecem cindir experimentos e reflexões qualitativas.…”