Então, pintei isso, pois acho que a peça é sobre a vida, sabe? E a vida é cheia de cores e cada um vem e adiciona sua própria cor à pintura. E mesmo que não seja muito grande, a pintura, vocês veem que continua para sempre, em todas as direções. Tipo o infinito. Porque a vida é meio assim, certo? É muito louco se pensar que, há 100 anos, um cara que nunca conheci veio para esse país com uma maleta. Ele teve um filho, que teve um filho, que me teve. E enquanto eu pintava, pensei que talvez aqui de cima seja a parte dele e aqui embaixo, a minha parte da pintura. E, então, comecei a pensar: e se todos estivermos na pintura toda? E se estávamos na pintura antes de nascer? E se estivermos nela depois de morrer? E se as cores que continuamos adicionando, ficarem uma em cima da outra, até que um dia não seremos mais cores diferentes? Seremos... uma coisa só. Uma pintura. Meu pai não está mais entre a gente. Ele não está vivo, mas está com a gente. Ele está comigo todos os dias. Tudo se encaixa de alguma forma. E mesmo que não entendam ainda, as pessoas que amamos morrerão em nossas vidas. No futuro. Talvez amanhã. Talvez daqui a alguns anos. É até bonito se for pensar que só porque alguém morre, só porque não pode mais vê-los ou falar com eles mais, não significa que não estejam na pintura. Acho que esse é o intuito da coisa. Não existe morte. Não tem você, eu ou eles. Somos só nós. E esta coisa confusa, selvagem, colorida e mágica que não tem começo e nem fim. Isto, bem aqui, acho que somos nós".