Svetlana Aleksiévitch tem se destacado, mundialmente, pela composição de obras que se distanciam dos paradigmas tradicionais de representação literária por meio do recurso expressivo de exposição de vozes que pleiteiam a condição de testemunhas de um evento traumático. De fato, é pela revelação de vários relatos pessoais, em uma oralidade intensa, que as testemunhas se convertem em personagens e narradoras de um mosaico polifônico, no qual cada fragmento representa uma voz que tenta não ser esquecida, conferindo o tom memorialista às narrativas. Diante disso, propomos uma análise de O fim do homem soviético em termos formais e de conteúdo, sobremodo a partir de teóricos como Bakhtin e Benjamin, de maneira a nos aproximarmos das posições axiológicas contidas na obra. A partir dos resultados obtidos, avaliamos que as estratégias literárias empreendidas pela autora potencializam a complexidade histórica relativa ao desmembramento da União Soviética, alargando, pelos caminhos do testemunho e da memória, os limites da própria literatura.