Ancorados nos Novos Estudos do Letramento e, ainda, a partir de uma pesquisa etnográfica, Lea e Street (2014) estabeleceram três modelos que permitem o estudo das práticas de leitura e de escrita na universidade: i) o das habilidades, ii) o da socialização e iii) o do letramento acadêmico como prática social. Considerando essa proposta, o objetivo desta investigação é identificar e analisar se e como essas três perspectivas sobre o letramento acadêmico aparecem no escopo da disciplina Oficina de Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos (OLP), ofertada a distância e semestralmente, há mais de uma década, na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa (Paiva, 2019), motivado por experiência profissional como tutores da OLP. Com base na ementa da disciplina, dos materiais instrutivos e informativos, dos recursos disponibilizados e das tarefas solicitadas, constatamos que os dois primeiros modelos citados embasam a OLP. No que se refere às habilidades, os aspectos linguísticos, como os gramaticais, são explorados de modo individual, com base nas demandas explicitadas pelos graduandos nos textos produzidos. Isso, no entanto, não acontece sem contextualização, mas, sim, em articulação à socialização acadêmica e à língua em uso, visto que os textos lidos e escritos são sempre explorados enquanto enunciados inscritos em gêneros discursivos (Bakhtin, 1997). Por sua vez, o terceiro modelo, que sobressalta a construção dos significados pelos sujeitos e as relações de poder e identidade inerentes à esfera universitária, é pouco adotado, principalmente ao se considerar que a OLP engloba um número grande de estudantes por semestre. Tal fato é um desafio, porque homogeneíza as práticas letradas e as restringe à própria disciplina na expectativa de que o aluno consiga, posteriormente, (re)produzi-las e (re)adequá-las aos contextos sociais mais específicos dos quais participa na universidade.