“…Se, por um lado, pode-se dizer que a crítica imediata ao capitalismo já pouco auxilia e mobiliza, em uma era na qual todo antagonismo parece facilmente absorvível, por outro, a verificável alteração em algumas das formas e elaborações discursivas denuncia o difícil esgotamento de todo um projeto. Ora, já em seus empregos iniciais, em meados de 1835, a palavra réalisme foi utilizada para denotar a vérite humaine das pinturas de Rembrandt, em oposição à idéalite poétique dos neoclássicos, instaurando um nó e um campo de possibilidades entre as ideias de realismo e verdade, cujos sentidos, amalgamados, haveriam de compor e estruturar o projeto estético de Émile Zola, por exemplo16 . Seguindo por essa via de análise, respirando ares levemente hegelianos, ainda que já deturpados pelos impactos da arte romântica, a verdade se mostraria não como revelação do imediato, mas como a coragem de inauguração e figuração de uma liberdade não existente, vislumbrada primeiramente em áreas como a arte, a filosofia e a religião, cuja percepção sensível haveria de instaurar uma nova ordem objetiva, dando àquela noção primeira o impulso necessário à alteração dos paradigmas sociais, dentro de um processo que exigiria de cada sujeito o máximo de sua implicação enquanto agente histórico.…”