O artigo visa demarcar o acervo de conhecimentos indígenas sobre as plantas presentes na documentação produzida na viagem filosófica do naturalista luso-brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira pela Amazônia colonial portuguesa (1783-1792). A expedição científica percorreu os territórios das capitanias do Pará, São José do Rio Negro e Mato Grosso e Cuiabá e teve entre os seus objetivos inventariar a flora, a fauna, os minerais e as populações locais. Em campo, o naturalista recorreu aos saberes indígenas sobre as ervas, raízes, madeiras, palmeiras, procurando instrumentalizá-los para geração de riqueza para a Coroa portuguesa e/ou para a sobrevivência nos sertões. Os conhecimentos associados ao manejo indígena da natureza foram ainda incorporados aos interesses da história natural, em um momento em que a ciência moderna se estruturava com base na razão, observação e experimentação. Na arena historiográfica posta, dialoga-se com estudos interessados em pensar que o conhecimento científico ilustrado foi produzido a partir dos trânsitos/contatos recíprocos, embora marcados por relações de poder assimétricas, com sujeitos cuja pretensão era a de subalternizar.