Resumo: Este artigo, escrito na perspectiva de uma história da antropologia das religiões afro-brasileiras, debruça-se sobre o pensamento de Roger Bastide acerca do sincretismo. Parte do carácter móvel e incerto da sua reflexão sobre o tema, para se centrar nas linhas de continuidade e de descontinuidade que, ao longo do tempo, ela apresenta. Sem deixar de enfatizar a importância do olhar africanista que Bastide deita sobre o sincretismo, o artigo coloca particular ênfase nas mutações que a reflexão de Bastide sobre o tema conhece, respeitantes tanto à argumentação conceptual do sincretismo como à atitude valorativa que o antropólogo francês adotou perante os cenários sincréticos que passou em revista. Temas como o princípio do corte, a distinção entre um sincretismo por justaposição e por fusão, o contraponto entre sincretismo religioso e sincretismo mágico, são abordados ao longo do artigo, que põe em evidência pontos comuns e divergências na análise que deles propõe Bastide.