Por que é que hei de apaixonar-me por um duende, quando também não sou nenhum ogre? As implicações dos avatares virtuais na comunicação digital
Sercan SengünResumo Diversos estudos recentes sobre avatares online abordam a sua autenticidade em termos da representação das pessoas que os gerem. Supostamente, os utilizadores construirão uma presença melhorada ou idealizada de si mesmos online, sem compreenderem, no entanto, que os outros fazem o mesmo ao procurarem informações de outros utilizadores através dos seus avatares. Este fenómeno torna-se ainda mais curioso no seio dos espaços dos jogos de vídeo online, uma vez que já se espera que os avatares dos jogos de vídeo não estejam relacionados com os seus jogadores, mas ainda são vistos como fontes de informação acerca dos mesmos. Este estudo aborda a problemática da comunicação e procura explicar o processo recorrendo à Teoria de Redução da Incerteza, de Berger (TRI). Agregando a TRI com diversas outras abordagens não verbais e visuais da comunicação, discute-se de que modo os avatares dos jogos de vídeo -aparentemente não relacionados ou arbitrariamente relacionados com os seus utilizadores -se transformam em fontes de informações acerca dos mesmos. Adicionalmente, de modo a elaborar ainda mais o processo, também se analisa a relação entre o próprio e os avatares. Para criar esta associação, aprofundaram-se as teorias semióticas de Saussure e Lacan e propôs-se uma nova abordagem. O processo de significação de Saussure e as cadeias de significação de Lacan foram adaptados aos avatares digitais, de modo a definir um ciclo repetitivo de retorno contínuo entre os avatares do jogo de vídeo e o próprio.
Palavras-chaveJogos de vídeo; jogos digitais; avatares; teoria de redução da incerteza; semiótica
IntroduçãoNo Verão de 2014, Zilla van der Born, uma doutoranda / artista holandesa, fez uma grande viagem ao Sudeste Asiático, nomeadamente a Phuket, Luang e Prabang. No decorrer da sua viagem, tirou fotografias de alguns dos locais que visitou, da comida que provou e de muitas outras coisas que fez e partilhou-as através das suas contas nas redes sociais. Manteve, inclusivamente, conversas através do Skype com a sua família a partir do seu quarto de hotel. No entanto, na realidade, van der Born não chegou a sair da sua terra natal, Amesterdão; todas as suas fotografias eram manipulações e o seu quarto de hotel oriental era simplesmente uma parte redecorada da sua casa. Quando questionada pelo New York Times sobre os motivos que a levaram a montar essa fraude, disse simplesmente "Fiz isto para mostrar às pessoas que nós filtramos e manipulamos aquilo que mostramos nas redes sociais […] criamos um mundo online que a realidade já não consegue satisfazer." (Flanagin, 2014).