Face à crise socioambiental contemporânea, as ciências humanas têm buscado outras formas de compreender a realidade que superam as dicotomias do pensamento cartesiano. Uma das alternativas é a reabilitação do animismo como potencial de descentramento do antropocentrismo, de forma a valorizar formas de consciência não-humana. Nesse sentido, o presente ensaio visa problematizar o conceito de lugar da geografia cultural e humanista por meio das influências do animismo contemporâneo, especialmente de sua vertente eco-fenomenológica. Considera-se que a lugaridade conflui por nexos mais-que-humanos nos quais formas de sentir e pensar intersubjetivos, intercorporais e de interanimalidade se manifestam como condições do coabitar na Terra. Pelo entendimento das polinizações cruzadas de sentidos de lugares humanos e não-humanos, salientam-se as multiplicidades experienciais da realidade geográfica. Esse processo decorre do estranho parentesco que enovela animais, plantas, rochas, atmosferas e outros fenômenos outros-que-humanos em uma teia de inerências e co vulnerabilidades terrestres. Conclui-se que mais que concernir à habitação, os lugares convergem em reversibilidades, interdependências, comunicações e tensões referentes ao (com) partilhar polifônico de coabitação.