Wendt (1992; e Benedict Anderson (2006), que se tornam especialmente importantes para explorar a conexão entre argumentos construtivistas e nacionalismo.No caso dos somalis, a consciência nacional que vinha sendo desenvolvida ao longo das décadas se intensificou e, nos anos 1960, com o final do domínio colonial no Chifre da África, tinha como principal objetivo a unificação dos povos somalis dentro de um único Estado, que ficaria conhecido como a "Grande Somália" (Lewis, 1988;Touval, 1963). Com o passar das décadas, o nacionalismo somali enfrentou altos e baixos e, diversos outros atores e temáticas passaram a fazer parte da dinâmica regional -muitas vezes considerada conturbada e violenta. Atualmente, a seca e a fome estão no cerne de uma crise humanitária de grandes proporções: mais de 210 mil somalis correm risco de morte por desnutrição e cerca de metade da população necessita de assistência humanitária. As consequências da pandemia do Covid-19 se acumularam com os efeitos do conflito na Ucrânia e desenham uma "crise sem precedentes" no país (ONU, 2022a).Ademais, a região vem sendo palco de guerras, terrorismo e intervenções externas desde meados da década de 1960, com o final da colonização europeia na região. A Guerra de Independência da Eritreia, a partir de 1961, guerras civis na Etiópia, entre 1974 e 1991, e na Somália, a partir dos anos 1990, e conflitos intrarregionais, como a Guerra de Ogaden, entre 1977 e 1978, são alguns exemplos de conflitos na região (Chazan et al., 1999). Ataques de grupos como o Al Ittihad Al Islamiya e o Al-Shabaab contribuem para a instabilidade da região desde os anos 1980, além de serem utilizados como justificativa para a atuação de forças externas sob a égide de missões multilaterais, como a Unified Task Force (UNITAF) e a UNOSOM II nos anos 1990, grupos da missão Enduring Freedom, em 2002, e as missões de paz da Organização das Nações Unidas e da União Africana, AMISOM e ATMIS, em 2007 e 2022, respectivamente (Cardoso, 2020). Considerando esse contexto, busca-se responder a pergunta: qual a relação entre o desenvolvimento do nacionalismo somali no Chifre da África com as instabilidades políticas e securitárias na região depois dos anos 1960?Para responder ao problema de pesquisa, o artigo a seguir estabelece-se a partir de fontes bibliográficas e documentais. Dessa forma, a pesquisa caracteriza-se como exploratória: com a coleta de dados, foram identificadas as principais instabilidades na região que, em seguida, foram analisadas para que elementos de cunho nacionalista pudessem ser identificados. Vale ressaltar que o presente artigo não busca estabelecer conexões de causa-efeito entre os objetos de estudo. Para que conclusões desse gênero possam ser alcançadas, seriam necessárias pesquisas mais extensivas e talvez ainda de natureza quantitativa. Com o objetivo de identificar as relações entre o nacionalismo somali e as instabilidades regionais, explora-se as particularidades de fatores que têm contribuído para as instabilidades políticas e securitárias.O artigo se divid...