A relação entre parasitos e hospedeiros é um processo coevolutivo que não necessariamente resulta em prejuízos diretos para o hospedeiro. Neste contexto diversos grupos animais têm convivido com parasitos sem sofrer efeitos imediatos, mas desempenhando o papel de reservatórios que contribuem para os ciclos ecológicos dos parasitos, a exemplo de Trypanosoma spp. Desde a descrição da tripanossomíase americana por Carlos Chagas em 1909, numerosos estudos têm investigado a relação Trypanosoma-mamíferos, avaliando seu papel como hospedeiros e reservatórios. Dada a diversidade de espécies de Trypanosoma e a variedade de mamíferos associados como hospedeiros, foi conduzida uma revisão bibliográfica abrangendo o período de 2010 a 2020, em estudos indexados nas plataformas científicas Web of Science e Scopus, visando fornecer uma síntese abrangente das espécies de Trypanosoma estudadas, sua distribuição geográfica global e os mamíferos que funcionam como seus hospedeiros. Foram examinados 446 artigos relacionados ao tópico, dos quais 97 foram selecionados com base nos critérios específicos da pesquisa: Abordarem a relação entre mamíferos e Trypanosoma como reservatórios. Foram reportados 22.662 espécimes de mamíferos, dos quais 5.347 (23,59%) identificados como portadores de alguma espécie de Trypanosoma e destes 85,13% positivos para T. cruzi. Os resultados obtidos reforçam a noção de que os Trypanosoma spp. são amplamente distribuídos e possuem interação substancial com diversas espécies de mamíferos. A versatilidade dos Trypanosoma em relação aos hospedeiros mamíferos é evidente, considerando que foram identificadas espécies abrigando esses parasitas em 12 das 29 ordens de mamíferos existentes, com ênfase nas ordens Didelphimorphia, Chiroptera, Rodentia e Carnivora.