Os(as) apanhadores(as) de flores e o Parque Nacional das Sempre-Vivas: entre ideologias e territorialidades

Abstract

Artigo recebido em 16/07/2012 e aceito para publicação em 13/08/2012 RESUMO:As dimensões ideológicas e suas articulações com natureza, comunidades, territorialidades e conflitos foram aqui privilegiadas. Identificamos visões sociais de mundo, expressas por meio das representações coletivas e de práticas circunscritas à apropriação do território em disputa, que aqui envolvem o Parque Nacional das Sempre-vivas, em Minas Gerais. A criação do parque desterritorializou comunidades apanhadoras de flores, que dependem dessas espécies para sobreviver. Sob a base de ideologias preservacionistas, o parque engendrou múltiplas invisibilidades. Os envolvidos, dentre eles os apanhadores, não se mantiveram refratários às ideologias, pressões e imposições; antes, potencializaram a realização política e de resistência. Palavras-chave: Apanhadores de flores, Parque Nacional das Sempre-vivas, ideologias, territorialidades, conflitos. ABSTRACT:The ideological dimensions and their respective interrelations with the environment, communities, territorialities and conflicts have been contemplated in this study. We have identified social views on world matters which were expressed collectively as well as practices within the appropriation of the territory under dispute, involving the Parque Nacional das Sempre-vivas (National Park of Strawflowers), in the State of Minas Gerais, Brazil. The creation of the park has deterritorialized flower-picking communities, whose means of support is this very activity. Under the basis of preservation ideologies, the park has brought about multiple invisibilities. The parties involved, including the flower-pickers, did not attain to the ideologies, pressure and constraints, but rather, allowed political and resistance issues to escalate.

Indigenous and Traditional Management Creates and Maintains the Diversity of Ecosystems of South American Tropical Savannas

“…3) Traditional communities: groups that maintain knowledge, identities, and territorialities linked to a historical, collective, and communal territory (Brasil, 1988;Colombia, 1997;Brandão, 2012;Eidt and Udry, 2019;Brondízio et al, 2021). In this group were included "geraizeiros," "apanhadores de sempre-vivas," groups formed from the historical mixture between indigenous, black and European people, and "quilombolas" groups that originated from enslaved black people who resisted slavery (Monteiro, 2011;Dayrell, 2012;CPI-SP, 2021). It is important to emphasize that all groups share the behavioral patterns of small-scale societies, such as direct dependence on biological resources from a rural territory (Ploeg, 2009;Smith, 2012), and yet they have unique traditions passed down through generations (Almeida, 2004).…”

“…It is done using controlled burning and, like the previous practice, is carried out in the transition from the rainy to the dry season. This practice goes beyond promoting the regrowth of important herbaceous species for livestock; it also stimulates flowering and fruiting in the following year of species of economic importance that are adapted to fire (Posey, 1985;Mistry et al, 2005;Falleiro, 2011;Schmidt et al, 2011;Monteiro et al, 2012;Schmidt and Ticktin, 2012;Figueira et al, 2016;Assunção et al, 2017;Eloy et al, 2018b).…”

“…After the fire event, the herbaceous stratum, the focus of human interest in this case, quickly regrows and recovers its flammability, becoming susceptible to another fire event (Miranda, 2010). These practices with fire are commonly used recurrently (Schmidt et al, 2011;Schmidt et al, 2018;Monteiro et al, 2012;Sletto and Rodriguez, 2013), which ends up favoring that the dominance of the herbaceous layer over the arboreal, as the fire-sensitive woody trees, which could change the structure of these ecosystems, have no chance of establishing themselves, as they cannot thicken their bark before the next fire (Hoffmann et al, 2012).…”

Tensões e conflitos na metrópole belo-horizontina: (neo)extrativismo, comunidades locais e áreas protegidas

“…Ou seja, a biodiversidade apresenta-se então como uma questão estratégica (BECKER, 2001), de médio e longo prazo, pelo valor a ela agregado. Some-se ainda a todos esses potenciais o interesse de gestores públicos locais em arrecadar impostos relativos à criação de unidades de conservação nos municípios por elas englobados, devendo-se ressaltar que a taxação do valor tributário que uma unidade de conservação mobiliza para o município é mais elevada quando se trata de UCs de proteção integral (MONTEIRO, 2011).…”

“…Há que registrar ainda que a atual conjuntura política está tendendo a desobrigar os empreendedores de realizarem e apresentarem o licenciamento ambiental e que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) já seria suficiente para a instalação dos projetos. Situação bastante temerária face aos riscos que tais empreendimentos facultam as comunidades e meio ambiente no Brasil atestados o longo de sua história por inúmeros exemplos (MUNGAI, 2008;MONTEIRO, 2011;ZHOURI et al, 2016).…”