Os impactos das identidades transgênero na sociabilidade de travestis e mulheres transexuais.

Abstract

Este artigo apresenta parte das reflexões contidas no trabalho de conclusão do Curso de Terapia Ocupacional da UNCISAL "Os processos de feminilidade nas travestis e mulheres transexuais e a repercussão nos espaços de sociabilidade". Silva RGLB, Bezerra WC, Queiroz SB. Os impactos das identidades transgênero na sociabilidade de travestis e mulheres transexuais. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2015 set.-dez.;26(3):364-72. RESUMO:Este artigo é resultado de uma pesquisa realizada no município de Maceió-AL, entre março de 2013 a setembro de 2014, e teve como objetivo geral compreender os impactos das identidades transgênero na sociabilidade de travestis e mulheres transexuais. Trata-se de um estudo qualitativo, que utilizou três fontes para registros e produção dos dados: diário de campo, observação participante e grupo focal. Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo. A apresentação e discussão dos resultados se deram a partir de três categorias temáticas: A família como primeiro grupo que exclui; A escola como lócus de reprodução do preconceito e discriminação; A rua que acolhe e vulnerabiliza. Os resultados evidenciaram que a expressão das identidades transgênero repercute negativamente na sociabilidade das travestis e transexuais, empurrando-as para uma situação de vulnerabilidade social e gerando sofrimentos diversos. DESCRITORES:Pessoas transgênero; Identidade de gênero; Participação social; Travestismo; Transexualismo; Vulnerabilidade social; Mulheres. Silva RGLB, Bezerra WC, Queiroz SB. The impacts of transgender identities in sociability of travestis and transsexual women. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2015 Sept.-Dec.;26(3):364-72.ABSTRACT: This paper is the result of research conducted in the city of Maceió-AL, Brazil, between March 2013 and September 2014, which aimed to understand the impacts of transgender identities on the sociability of travesties and transsexual women. In this qualitative field study, we used three sources to produce and register data: field diary, participant observation and focus group. Data were analyzed using content analysis. The presentation and discussion of results used three thematic categories: the family as the first group that excludes; the school as a reproductive locus of prejudice and discrimination; the street that welcomes and increases vulnerability. The results showed that the expression of transgender identities produces negative repercussions on the sociability of travesties and transsexuals, exposing them to social vulnerability and various types of suffering.

Dynamics of the social network of young female transsexuals that live and deal with HIV/AIDS

“…The family nucleus should perform the function of main support network to the individual, the first cultural resource for education and social foundation for the affective construction (8) . However, the exclusion process within the familiar scope influences negatively the construction of one's subjectivity in the relationship with oneself and with the world (2) . The outcome is the distance of the family nucleus in a violent manner and the search for support for socialization in the streets:…”

“…The rupture of family ties and daily discrimination leave them more vulnerable and deprived of rights (2) . In general, neighborhood ties play an important function of response to emergency situations due to physical proximity; whereas the friendship relations consist in affective bonding, even with the physical distance, being expressed by loyalty and sharing of experiences of joy and pain, having thus as competence the offer of appropriate advice (8) .…”

“…The process of consolidation of the young female transsexual's identity is permeated by elements that comprise the feminine universe, perceived since childhood or adolescence, and by the search for new experiences, which are intensified based on the transformation of the body, usually associated with the lack of support by the social network. Indiscriminate use of hormones, obtainment of income through prostitution for survival and night circulation on the streets configure ambivalent situations, permeated by risk/pleasure and violence/acceptance in the sharing of vulnerabilities (2) .…”

Trajetórias Trans: apoio social e relações afetivo-sexuais de transexuais

“…De acordo com Oliveira e Porto (2016), os pilares constituidores da família são o afeto, o apoio e a formação de alianças para proteção de seus membros, pilares estes que muitas vezes são negados à pessoa transexual, ocorrendo a quebra dos vínculos pressupostos, configurando a ausência de apoio e mesmo a expulsão da pessoa transexual. Gontijo (2012) propõe que as pessoas transexuais reconhecem na família um espaço em que se encontram seguros, porém, deve-se ressaltar que é também no ambiente familiar que os transexuais têm suas primeiras experiências com a intolerância e falta de compreensão e reconhecimento de suas identidades, levando mesmo ao rompimento de laços afetivos, reduzindo a segurança antes percebida à sensação de vulnerabilidade (Gontijo, 2012;Longaray & Ribeiro, 2015;Silva, Bezerra & Queiroz, 2015). Retomando o estudo de Colton Meier et al (2011) observa-se que pessoas trans relatam a percepção de menor apoio social e contato com pares quando comparada à população geral, tendo a rejeição como a reação mais comum dos familiares diante da transexualidade (Riggs, von Doussa, & Power, 2014).…”

“…Assim, apesar de enfrentarem a rejeição inicial e mesmo relutância dos pais, observa-se um movimento dessas famílias direcionado ao acolhimento da pessoa trans, frente à necessidade de apoio e afeto no enfrentamento de possíveis dificuldades encontradas na vivência da diversidade (Silva, Bezerra & Queiroz, 2015). Já Justin e Pandora descrevem relações vulneráveis com as mães, oscilando entre a aceitação e o temor diante do desconhecido.…”