Ouro para fora, lixo para dentro: as inserções de Gana na divisão internacional do trabalho contemporânea e a recommodização da economia

Abstract

O território ganense possui uma rica variedade de recursos minerais – como ouro, manganês, bauxita e diamantes – que tem sido explorada por grandes corporações estrangeiras desde o final do século XX, quando o país executou reformas neoliberais. A exportação de minerais é uma componente chave na inserção do país no mercado internacional, trazendo substanciais recursos externos para o Estado. Ao mesmo tempo, devido a falta de industrialização de sua economia, Gana tornou-se altamente dependente da importação de bens manufaturados de segunda mão, como bens eletroeletrônicos (mas também automóveis e roupas), importados principalmente da Europa e da América do Norte. Aproximadamente 60% desses bens não podem ser reutilizados em suas funções originais, tornando-se lixo (lixo eletrônico) que se acumula no bairro de Agbogbloshie em Accra. Assim, esse artigo busca analisar o papel de Gana na Divisão Internacional do Trabalho contemporânea.

A recommodização da economia urbana em Acra, Gana

“…Localmente chamado de Sodoma e Gomorra, Agbogbloshie localiza-se a um quilometro do centro de Acra. Em sua extensão de aproximadamente 16 quilômetros quadrados habitam cerca de 80 mil pessoas, sendo a maioria delas migrantes das regiões norte do país e imigrantes togoleses e marfinenses (SANTOS, 2018). O bairro possui uma intensa vida comercial, especialmente entorno da Abossey-Okai Road, avenida de marcado fluxo de automóveis, motocicletas, bicicletas, caminhões, caminhonetes, carroças e carros-de-mão.…”

Da Informalidade Ao Circuito Inferior: Um Estudo Sobre a Economia Urbana Em Gana No Século Xxi

“…As oficinas de reparos de bens de consumo duráveis também se destacam nas cidades do país: destinadas ao conserto de automóveis, maquinários diversos e produtos eletrodomésticos e eletroeletrônicos é, de certa forma, o que garante o aumento da vida desses produtos para a população ganense. Vale destacar também que grande parte dessas oficinas reparam objetos de segunda-mão que são importados dos países do Norte Global (SANTOS, 2018). Nas calçadas diante dessas oficinas, é comum ocorrer o próprio comércio das mercadorias consertadas: geladeiras, fogões, computadores, aparelhos de televisão, motocicletas etc.…”

The recycling of e-waste in the Industrialised Global South: the case of Sao Paulo Macrometropolis

“…They also set goals related to reducing the impacts that a technically inadequate recycling could generate for both human health and the environment. At the same time, the possibility of implementing a reverse logistics system opens up, in which products obtained from recycling (especially minerals and plastics) are reintegrated into other value chains as raw materials or recommodities (Santos 2018;Isernia et al 2019).…”

“…Understood as recommodities (Santos 2018), the products obtained by the WEEE recycling process in Sao Paulo Macrometropolis integrate recycling processes or production processes of other companies within several production chains located in different points of Brazil and the world.…”

“…Elements as aluminium, titanium, chrome, manganese, iron, cobalt, nickel, copper, zinc, niobium, palladium, silver, tin, rhenium, platinum, gold and lead can be recycled through the reverse logistics system. Reinserted into value chains as recommodities (Santos 2018), these recycled elements used as raw material guarantee the development of the circular economy (Boulding 1966;Pearce and Turner 1990). According to data from the Platform for Accelerating the Circular Economy presented at the World Economic Forum in 2019, e-waste can generate profitability of approximately 65 billion USD per year (PACE 2019).…”