A kanawa, a grande canoa oceânica indígena, é frequentemente retratada nas pesquisas arqueológicas das Antilhas como o viés material para o comércio e a colonização de novos espaços. Assim se vem reiterando a velha teoria difusionista, herdada da ecologia cultural, segundo a qual os padrões culturais são o produto das condições peculiares do ambiente em que estão inseridos. Esta visão determinista refletiria uma projeção etnocêntrica para a compreensão da arte da navegação entre as populações Arawak e Carib. Em contraposição a esse modelo, propomos uma abordagem estruturalista da cultura material que explore as dimensões técnicas, sociológicas e míticas da navegação indígena, abrangendo tanto as Antilhas quanto o Alto Rio Negro. Ao estudarmos esses territórios em conjunto, podemos conceber a bacia do Caribe indígena como uma área de transição sujeita, ao longo dos séculos, às influências culturais intensas tanto da América do Sul quanto da América do Norte.