Para O Lar: As Mulheres Que Deixaram O Mercado De Trabalho Para Se Dedicarem À Casa E À Família

Abstract

O objetivo desta pesquisa foi identificar as mulheres que migraram do mercado de trabalho para o exercício da profissão do lar em Santana do Livramento, RS, Brasil, bem como os principais fatores para tal atitude. As entrevistas foram realizadas por meio da técnica bola de neve e utilizou-se análise de conteúdo para tratar os dados. Os resultados demonstram que os fatores familiares foram os principais responsáveis pela transição do mercado de trabalho para a profissão do lar pelas mulheres, o que é explicado historicamente por ser o espaço privado destinado a elas, enquanto aos homens destina-se o espaço público.

Profissão do lar: (des)valorizada, (não)reconhecida e (in)visível. até quando?

“…A respeito do fenômeno social do abandono de funções remuneradas no mercado de trabalho, a literatura nacional e internacional tem apresentado estudos mostrando que, geralmente, são as mulheres que tomam essa decisão pelas mais diversas razõese ISSN 0719-0417 / 47-69 PUNTO GÉNERO 50 muitas vezes por razões associadas à família e ao lar, conforme revelam diversos estudos nacionais (Bezerra & Vieira, 2013;Bidarte, 2018;Bidarte, Fleck & Mello, 2018;Bidarte & Fleck, 2019;Bruschini, 1985Bruschini, , 1994Bruschini, , 1995Bruschini, , 1998Bruschini, , 2007Bruschini et al, 2011;Madalozzo, Martins & Shiratori, 2010;Melo & Sabbato, 2011;Rocha-Coutinho, 2004;Saffiotti, 1987;Santos & Diniz, 2011, 2018Soares & Sabóia, 2007;Soares, 2016) e internacionais (Batthyány, Genta & Perrotta, 2017;Caetano-da-Silva, 2013;Calderón & Campos-Ríos, 2013;Carrasco, 2005;Chovwen, 2007;Funk, Lang & Osterhaus, 2005;Hewlett & Luce, 2005;Ituma & Simpson, 2009;Kabeer et al, 2012;Perticará, 2005;Sen, 1998;Sullerot, 1970;Sullivan & Mainiero, 2008).…”

“…Utiliza-se o termo "profissional do lar" em vez de "dona de casa", já que esse último possui, na maior parte das vezes, conotações estereotipadas negativas na sociedade brasileira. Com isso, busca-se valorizar e visibilizar esse trabalho reprodutivo, esse trabalho doméstico não remunerado e, ainda, desassociar a ideologia patriarcal que conserva a imagem de "dona de casa" como sendo o ideal de mulher, esposa e mãe e que não trabalha (Bidarte, 2018;Bidarte, Fleck & Mello, 2018).…”

“…Em razão de que os/as profissionais do lar são indivíduos que possuem pouca visibilidade social, não são encontrados/as facilmente e constituem uma população difícil de ser acessada (Bidarte, Fleck & Mello, 2018), utilizou-se como técnica de seleção de sujeitos a bola de neve, apropriando-se de uma abordagem em cadeia (Flick, 2009), realizada na cidade de Santana do Livramento/Brasil, e, inclusive, alcançando sujeitos de outras localidades, como Santa Maria/Brasil e Rivera/Uruguai. A partir desse mapeamento, chegou-se a um total de treze profissionais do lar do sexo feminino (nove participaram efetivamente) e quatro do sexo masculino, contatados através de doze informantes.…”

“…Segundo o pensamento machista, é "natural" que a mulher se dedique aos/às filhos/as, que fique em casa. Torna-se, então, clara a atribuição das tarefas de cuidado a ela (Bidarte, Fleck & Mello, 2018;Bruschini, 1985Bruschini, , 1995Rocha-Coutinho, 2004;Saffioti, 1987;Santos & Diniz, 2011, 2018.…”

“…Ainda considerando as informações da Tabela 2, é notável que a transição de uma função remunerada no mercado de trabalho para o exercício da profissão do lar deu-se, na maioria dos casos, por fatores familiares, como filhos/as pequenos/as, familiar idoso/a e/ou doente e marido. Esses resultados são corroborados por diversos estudos nacionais (Bezerra & Vieira, 2013;Bidarte, 2018;Bidarte, Fleck & Mello, 2018;Bruschini, 1985Bruschini, , 1994Bruschini, , 1995Bruschini, , 1998Bruschini, , 2007Bruschini et al, 2011;Madalozzo, Martins & Shiratori, 2010;Melo & Sabbato, 2011;Rocha-Coutinho, 2004;Saffiotti, 1987;Santos & Diniz, 2011, 2018Soares & Sabóia, 2007;Soares, 2016). Ao comparar esses resultados com outros países, percebe-se que os fatores familiares são os mesmos que levam as mulheres a abandonarem o mercado de trabalho, por exemplo, na Angola (Caetano-da-Silva, 2013), no Chile (Perticará, 2005), na Espanha (Carrasco, 2005), nos Estados Unidos (Hewlett & Luce, 2005;Sullivan & Mainiero, 2008), na Índia (Kabeer et al, 2012;Sen, 1998), no México (Calderón, & Campos-Ríos, 2013;Funk, Lang & Osterhaus, 2005), na Nigéria (Chovwen, 2007;Ituma & Simpson, 2009), no Paquistão (Kabeer et al, 2012), e no Uruguai (Batthyány, Genta & Perrotta, 2017).…”