Background: Fraturas longitudinais da patela são incomuns na rotina ortopédica veterinária. Elas afetam diretamente o movimento de extensão do membro pélvico e podem resultar em incongruência e potencial doença articular degenerativa. A correção cirúrgica é necessária para preservar o mecanismo extensor do quadríceps e reduzir possíveis complicações. Objetivo desse trabalho é relatar a apresentação clínica, o procedimento cirúrgico utilizado para estabilização da fratura patelar longitudinal e o resultado pós-operatório em diferentes etapas de cicatrização de um felino.
Case: Em 2022, foi atendido um felino com fratura patelar longitudinal do membro pélvico esquerdo no Hospital Veterinário Universitário. O paciente foi diagnosticado por meio de exames físicos e radiográficos do membro pélvico acometido. Sob anestesia, passou pelo procedimento de osteossíntese da patela com fio de cerclagem e sulcoplastia troclear para evitar luxação da mesma. Foi recomendado ao paciente repouso e cuidados básicos com higienização da ferida cirúrgica. Em 60 dias, o felino voltou para a reavaliação radiográfica, visando verificar o estado da consolidação óssea da patela. Foi evidenciado a não consolidação óssea do fragmento aproximado, mesmo com implante imóvel e unindo adequadamente os fragmentos. Embora não consolidada a fratura, o animal apresentou melhora no quadro clínico de claudicação.
Discussion: Fraturas longitudinais são raras e apresentam poucos relatos na literatura. Acredita-se que felinos sejam mais propensos a apresentarem fraturas longitudinais após golpes diretos que cursem com compressão da patela sobre o sulco troclear, uma vez que a patela, nessa espécie, é relativamente mais larga e mais lisa, quando comparada com a patela do cão. O mecanismo pelo qual fraturas longitudinais ocorrem ainda é pouco esclarecido na literatura e as causas principais podem variar conforme apresentação clínica. A escolha do melhor método de tratamento para fraturas patelares ainda se apresenta como um desafio, uma vez que os relatos apresentam diversos métodos empregados, que variavam conforme apresentação da fratura. Independente da escolha do tratamento, os princípios cirúrgicos da correção da fratura patelar devem respeitar os seguintes quesitos: a fratura deve ser reduzida, os fragmentos mantidos em aposição até união biológica, a continuidade dos tecidos moles restabelecida e a funcionalidade do joelho restaurada. Para o felino, a opção pelo tratamento com fio de cerclagem baseou-se no princípio de correção da normalidade anatômica, redução da fratura e estabilização dos fragmentos, visando imobilizá-los para melhor consolidação óssea. A manutenção e aproximação do fragmento lateral da fratura longitudinal foram preconizadas, junto à sulcoplastia, pois se buscou garantir maior contato da patela com o sulco troclear e consequente redução das chances de luxação. Embora não tenha havido consolidação da fratura, o fragmento manteve-se íntegro e imóvel, e nenhuma complicação pós-cirúrgica foi evidenciada, que indicou o êxito da técnica empregada para aproximação da fratura longitudinal lateral. Assim, a técnica utilizada apresentou-se como uma boa alternativa para a aproximação dos fragmentos patelares, mesmo com ausência da formação de calo ósseo, devido à facilidade de aplicação e estabilidade íntegra após 60 dias. Além disso, ela revelou-se uma importante ferramenta para fratura patelar cujo fragmento longitudinal lateral foi mantido, pois possibilitou correta aproximação e imobilização fragmentária, sem que fosse necessária exérese por patelectomia parcial.