Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2003), 17,7% das famílias brasileiras são constituídas por homens ou mulheres com filhos que vivem sem a presença do cônjuge/companheiro. Na literatura, tais famílias são chamadas de monoparentais e decorrem do aumento do número de divórcios e separações e das mulheres e homens solteiros ou viúvos que cada vez mais criam seus filhos (biológicos ou adoptivos) sem necessariamente constituir ou manter um relacionamento conjugal.Esses dados confirmam que as instituições familiares, ao longo da história, estão sujeitas a transformações, pois as formas de se conceber a família são socialmente construídas (Santos & Oliveira, 2005). Historicamente, o patriarcado e os modelos tradicionais de masculinidade propiciaram a desvalorização do feminino, estabelecendo diferentes funções para homens e mulheres dentro da sociedade. Assim, no âmbito da família, ao homem foram delegadas as responsabilidades pelo sustento da família e exemplo moral e à mulher as responsabilidades de educação e cuidados com os filhos.A inserção maciça das mulheres no mercado de trabalho e sua (ainda em andamento) busca por igualdade de direitos e deveres com os homens possibilitaram o questionamento dessas posições e funções sociais. Nesse contexto, os estudos sobre a masculinidade ganharam espaço e possibilitaram a reflexão sobre a condição masculina, questionando as imposições do modelo hegemônico e procurando outras formas de os homens se relacionarem com o sexo oposto e com outros homens. No bojo desses estudos e reflexões observa-se o surgimento de uma 'nova paternidade', baseada numa maior aproximação afectiva entre pai e filho, com uma relação afectiva exteriorizada e o envolvimento do pai nos cuidados diários com a saúde, a higiene e a alimentação dos filhos. Essa nova paternidade não surge sem conflitos, é cheia de avanços e retrocessos, mas está a constituir-se num modelo de paternidade possível aos homens. Navarro (2007) relata que, por muito tempo, os estudos e investigações sobre relacionamento parental se centravam principalmente na relação mãe-filho, com pouca ênfase na paternidade, contribuindo para que a maternidade ocupasse um lugar central no desenvolvimento dos filhos e até mesmo promovendo a culpabilização materna quando havia alguma dificuldade nesse processo. Ao mesmo tempo, a paternidade foi considerada como secundária no desenvolvimento psicoló-