Pesquisa científica, atenção primária e medicina de família

Abstract

Apesar do grande crescimento da nossa especialidade nos últimos 30 anos, ainda estamos muito aquém de atender à demanda brasileira por médicos de família. Atualmente representamos apenas 1,4% do total de médicos especialistas no Brasil e menos de 5% do total de vagas de residência no país são destinados à medicina de família e comunidade (MFC). Com 70% da nossa população coberta pela Estratégia de Saúde da Família, apenas uma parcela pequena conta com um médico de família treinado por um programa de residência em MFC. Infelizmente temos poucas evidências mostrando o impacto do treinamento em MFC no cuidado das pessoas e muito do que sustentamos no nosso discurso como diferenciais da nossa prática carece de provas científicas. Isso perpetua uma noção comum entre formuladores de políticas e gestores de que a atenção primária à saúde (APS) é uma área de atuação desprovida de desafios, sem complexidades e possível de ser realizada por qualquer médico sem treinamento especializado. Se a MFC pretende se firmar como a especialidade médica responsável pela APS no Brasil e no mundo, precisa avançar no desenvolvimento de habilidades para a pesquisa, para poder estudar o universo da MFC e da APS com a profundidade e o rigor que a complexidade destas disciplinas demanda. Desenvolver o potencial para a pesquisa representa um passo importante do projeto profissionalizante da nossa especialidade e do amadurecimento da APS. Ao questionarmos nossa prática e ao perguntarmos o quanto realmente fazemos a diferença no cuidado dos nossos pacientes estaremos ampliando a base de evidências da nossa especialidade e demonstrando o quanto a APS se torna mais abrangente ao ter um médico treinado em MFC. Este ensaio aborda as dificuldades da MFC em mostrar seu valor e a sua importância para os sistemas de saúde; e apresenta o papel vital que a pesquisa científica deve ter no enfrentamento destes desafios.

Primer on binary logistic regression

“… 1 However, research has an important place in family medicine to improve quality, responsiveness and innovation in patient care. 2 As a result, there have been numerous calls in recent years 3 for family and community medicine practitioners around the world 4 5 to become more involved in research. 6 Among the recommendations for improving family medicine research is strengthening the use of appropriate research methods.…”

Serafim-Br

“…Entender as lacunas, estudar as necessidades e desenhar estratégias de melhoria desse atributo essencial da APS são eixos significativos de temas de pesquisa que devem compor o delineamento de uma agenda de pesquisa em MFC, que possa ser estruturada, receber recursos específicos e contribuir para qualificação da assistência à saúde no Brasil. 1,2,[7][8][9][10][11][12][13] A Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que o desenvolvimento de prioridades de pesquisaem um formato transparente e confiável -pode contribuir para a meta dos três bilhões de seu plano estratégico ("um bilhão de pessoas a mais se beneficiando da cobertura universal de saúde; mais um bilhão de pessoas melhor protegidas das emergências de saúde; e mais um bilhão de pessoas desfrutando de melhor saúde e bem-estar"). A literatura internacional é rica em agendas de pesquisa em áreas de especialidades focais.…”

“…Em um país com território geográfico tão extenso como o Brasil, elencar as prioridades de pesquisa, como foi realizado em 2018 no documento "Agenda de Prioridades de Pesquisa do Ministério da Saúde", é um potente e necessário caminho organizacional, que tem o objetivo de alinhar as prioridades atuais de saúde com as atividades de pesquisa científica, tecnológica e inovação e direcionar os recursos disponíveis para investimento em temas de pesquisas estratégicos para a MFC. [8][9][10][11][12][13][14][15][16][17][18] Este empreendimento também é significativo tendo em vista que pesquisa em MFC e APS na América Latina encontra-se em estágio incipiente quando comparado com Europa e América do Norte.…”

“…Definir as prioridades de pesquisa é útil não só para promover a pesquisa em áreas que sejam de importância para o paciente, mas também para reduzir iniciativas de pesquisa desnecessárias que não usam nem melhoram as evidências já existentes e, assim, diminuir o desperdício dos escassos recursos de pesquisa. 12,[18][19][20][21]…”

Pesquisa qualitativa em medicina de família e comunidade

“…Nesse sentido, é no mínimo intrigante querer pesquisar o valor e a importância do MFC para os sistemas de saúde 10 , ou seja, se a formação padrão-ouro (residência médica) faz a diferença nos cuidados em APS. Esse tipo de pesquisa equivale a questionar a justificativa de que médicos precisam ser especialistas em cuidados intensivos para trabalhar em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ou que cardiologistas são os especialistas qualificados para atuar em unidades coronarianas, e assim por diante.…”