Prezado editor, Classicamente, o treinamento em psicoterapia psicanalítica está baseado em um tripé proposto por Freud para formação de psicanalistas: aprendizado teórico, supervisão clínica e análi-se/psicoterapia psicanalítica pessoal. Por ser uma atividade realizada de forma isolada, sem que o professor/supervisor esteja presente durante a sessão, não há garantia de que esse aprendizado esteja sendo utilizado na prática clínica do terapeuta em formação. Ademais, a aplicação da técnica psicanalítica também depende de características do paciente: quando o paciente não apresenta capacidade de insight e de abstração ou quando necessita de contenção por parte do terapeuta, o terapeuta tende a utilizar técnicas mais diretivas, abordagens de apoio ou técnicas mistas em sua prática 1,2 . Diante dessas constatações, questiona-se: os psicoterapeutas de um ambulatório de psicoterapia psicanalítica (Contemporâneo -Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade, Porto Alegre/RS) de fato atuam psicanaliticamente com seus pacientes? Os pacientes dessa instituição propiciam o uso da técnica psicanalítica durante seus atendimentos? O ambulatório em questão agrega uma escola de psicanálise que forma especialistas em psicoterapia psicanalítica com base no tripé acima mencionado.Decidiu-se, então, submeter à análise de pares de juízes 118 sessões dialogadas de pacientes adultos atendidos no referido ambulatório nos últimos cinco anos, cedidas pelos terapeutas (67 sessões, 56,8%) e seus supervisores (51 sessões, 53,2%). Quinze terapeutas e 81 pacientes estão representados nessas sessões. As sessões foram avaliadas por oito juízes (psicólogos especialistas em psicoterapia psicanalítica), independentemente, após treinamento.Utilizou-se o Instrumento para Avaliação de Sessões Psicanalíticas (IASP), o qual apresenta boa confiabilidade e é composto pelos itens: neutralidade do terapeuta, tipo de intervenções utilizadas, uso de interpretações, uso da teoria psicanalítica para compreensão do material, criação de espaços reflexivos e relação terapeuta-paciente 3,4 . A pontuação final da sessão pode variar de 0 a 25 pontos, e sessões com pontuações iguais ou superiores a 13 são consideradas psicanalíticas. O instrumento não mensura a qualidade da sessão e a adequação das intervenções do terapeuta; não há necessariamente correlação entre a aderência à técnica e a qualidade da sessão.Das 118 sessões analisadas, houve concordância em que 106 delas seriam psicanalíticas e que duas não seriam; não houve concordância quanto às demais 10 sessões. Ajustando para Recebido em 28/5/2012 Aprovado em 7/8/2012