DedicatóriaMeu nome é Antônio.Quando eu era pequeno, pouco me chamavam por esse nome talvez por conta de meu irmão, que também tinha como primeiro nome Antônio.Mas o nome permanecia solene nos documentos oficiais, na religiosidade de minha mãe e nas expectativas ingênuas minhas de uma experiência existencial, talvez uma identidade.Minha avó elegia um Santo para cada neto: um dos meus irmãos tinha como protetor Dom Bosco, uma prima tinha Santa Rita e eu tinha Santo Antônio.As rezas, as doenças de criança e as intercessões relacionadas a mim eram para ele.Já adulto, escuto esse nome várias vezes ao dia.A tradição católica de minha família me identifica pelo nome e eu, ao pesquisá-lo, descobri que ele era alguém bastante envolvido com a linguagem, que buscava a erudição mesmo tornando-se franciscano.Ele era um excelente orador, tanto que, quando foram fazer o traslado de seu corpo, sua língua continuava ilesa.Dedico esse trabalho a Santo Antônio.Por ser ele, neste momento de minha vida, a imagem que perpassa pelos caminhos que percorri até hoje, ora distante nas rezas silenciosas de minha mãe, ora vivente na serenidade do olhar da sua imagem, que me faz imaginar as palavras proferidas por ele durante a vida. GIRALDES, A.R. ASPECTOS DA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO MIGRANTE: PEDAGOGIA DA ESCOLHA, IMAGINÁRIO E SOCIEDADE. 2016. 117 f. Tese (Doutorado) -Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2016 RESUMO As teorias sobre a identidade, muito mais que se enveredarem por um enredo de métodos que, através do tempo, negam-se para se renovarem; tornam-se uma teia, mandala de observações, critérios e percepções diversos em si mesmos e entre o objeto em questão, num constructo fugidio, todavia, extremamente fascinante para o pesquisador, que se sente um eterno "buscador" da identidade do Homem, "buscador" de si mesmo. O objetivo deste trabalho é estabelecer uma discussão sobre as formas pelas quais esse caminho de identidades pode ser contemplado, relacionando-o com os migrantes e como eles se utilizam das suas experiências para recriarem seus sentidos no mundo e, consequentemente, suas identidades. Para tanto, partindo de EDGAR MORIN e sua concepção da razão complexa, faz-se um entrelaçamento entre alguns campos do saber: um enfoque sociocultural (CASTELLS, BAUMAN e HALL), a antropologia do imaginário e o trajeto antropológico (BACHELARD, DURAND e MAFFESOLI). Nesse entrelaçamento, articulamos conceitos de estereotipia, arquetipia, alteridade e alienação, vinculando-os à globalização, à modernidade tardia, à pedagogia da escolha e ao amor fati (NIETZCHE). Os sujeitos participantes do processo são migrantes, que, a partir de várias formas comunicativas vinculadas às suas histórias de vida (RUBIO), compõem, cada qual, sua identidade. O que se observou, nestes relatos, foram grandes possibilidades de encontros epistemológicos entre antropologia do imaginário e as teorias sociológicas, como se as pontes entre os conhecimentos, ao surgirem, trouxessem caminhos novos à nossa compreensão sobre identidades: coletiva, i...