Plataformas digitais e uberização: a globalização de um Sul administrado?

Abstract

Este artigo trata do trabalho de plataforma a partir da definição de uberização. Esta é compreendida como uma nova forma de organização, gerenciamento e controle do trabalho, que se firma como uma tendência global. A novidade catalisada pelas plataformas digitais se refere à um gerenciamento algorítmico que precisa ser mais bem compreendido e analisado É possível perscrutar uma nova forma de controle, que opera na extração e processamento de dados da multidão de trabalhadores, que são então utilizados como meios novos e pouco conhecidos para o gerenciamento do trabalho, informados pela possibilidade de um pleno mapeamento do processo de trabalho (Zuboff, 2018). São analisados: o trabalho de revendedoras de cosméticos para pensar em nas características tipicamente femininas do trabalho que se generalizam; o trabalho de motoboys e sua uberização na cidade de São Paulo.

Bikers sob o controle algorítmico: trajetórias laborais e as condições de trabalho em três municípios do Paraná

“…Esse rol de atividades variadas, rotativas, temporárias e informais citadas pelos entregadores são comuns no trabalho juvenil, mas também se associam às características do trabalho periférico, marginalizado e invisibilizado do Sul global. O processo de constituição histórica da trajetória de trabalho dos trabalhadores no Brasil, por exemplo, esteve atrelado à informalidade, ao bico, ao trabalho temporário e precário, características essas que vão se generalizando, inclusive mais recentemente se expandindo do Sul ao Norte Global (ABÍLIO, 2020a;2020b). Assim, também é possível dizer que impactam no futuro laboral, visto que a atividade como biker não constitui experiência de trabalho formal, assim como não possibilita galgar cargos mais prestigiados na hierarquia da empresa.…”

“…Diante disso, compreende-se que a plataformização é a tendência crescente de submeter o trabalho ao controle de plataformas digitais sob as mais diversas relações de trabalho, ou seja, formais/informais, temporário/intermitente, dentre outros. Já a uberização, trata-se de um processo mais amplo, que se estende para além das plataformas digitais e refere-se a um processo de informalização das relações de trabalho e a consolidação do trabalhador just in time, cujo trabalho sem vínculo de emprego é controlado e gerenciado por plataformas digitais ou é exterior a elas (ABÍLIO, 2019(ABÍLIO, , 2020a. Além disso, caracteriza-se por uma nova forma de gestão e controle de uma multidão de trabalhadores, que passaram por um processo de flexibilização das jornadas de trabalho e remuneração, cujo mascaramento do assalariamento é um elemento importante dessas relações de trabalho, cada vez mais individualizadas e invisibilizadas (ABÍLIO, 2020a(ABÍLIO, , 2020bANTUNES, 2020;ABÍLIO, AMORIM, GROHMANN, 2021).…”

“…A expansão do trabalho uberizado tem tido notoriedade no Brasil, especialmente após a crise pandêmica da Covid-19, iniciada em 2020, quando trabalhadores uberizados do setor de delivery foram considerados essenciais em um momento de medidas de distanciamento social e fechamento de estabelecimentos não essenciais, assim como em razão de pesquisadores do mundo do trabalho que se empenharam em compreender esse fenômeno, ao buscar dados e análises relevantes, como os estudos de Abílio (2019Abílio ( , 2020ab;d); Abílio, Amorim e Grohmann (2021); Festi e Oliveira (2022); Machado e Zanoni (2022); Grohmann (2020b); Kalil (2019); Filgueiras e Antunes (2020); Barros (2022); Silva (2021); Souza (2020); Moura (2021); Slee (2017); Cant (2021); Srnicek (2017); Woodcock e Graham ( 2022); e Morosov (2018); dentre tantos outros de relevância para os estudos do trabalho.…”

Control and surveillance in digital capitalism: an analysis of blockchain technologies and their business implementation

“…A. Costa & E. S. Costa, 2018;Robert, Lisdero, & E. S. Costa, 2018) confirmed, through material and symbolic dimensions that permeate labor relations, the complexity of the world of work to understand work in the digital world. Other studies identify uberization (Abílio, 2020a(Abílio, , 2020bFontes, 2017;Pochmann, 2016) as a fundamental element in the expansion of the precariousness of work, making it possible to understand the strategies that transport and food delivery application platforms, among others, use to implement their services. These platforms indicate the increase in new forms of work precariousness -understood based on the methodological plurality of academic approaches (E. S. Costa & Almada, 2021) -and can generate disqualification factors, low wages, and precariousness of life.…”

Gendering platform research

“…First, gender has been obscured in the study of platforms because this field has been influenced by the intensification of labour struggles in the male-dominated sectors of delivery and passenger transport in the global North. As the term 'uberisation' suggests, working conditions at Uber are often considered as a model for the disruptive impact that platforms have in all sectors (Costhek Abílio, 2017). However, the uberisation model often obscures the diversity of the platform economy and especially how different platforms operate in different national and social contexts.…”