ResumoEsta pesquisa teve como objetivo descrever o perfil das famílias envolvidas nas denúncias feitas ao programa SOS Criança de Curitiba entre os anos de 1995 e 2000. As pesquisadoras examinaram o conteúdo de 400 documentos, que continham o registro de crianças e adolescentes (entre 0 e 18 anos) vítimas de maus-tratos. A análise das denúncias comprovadas revelou que os vizinhos denunciaram mais freqüentemente (64,9%). As denúncias envolveram 51,0% de casos de agressão física, 34,4% de negligência intrafamiliar, 7,3% de abandono e 7,3% de abuso sexual. Das vítimas, 48,5% eram do sexo feminino e 51,5% do sexo masculino. Dos agressores, 54,1% eram mães, 15,3% eram pais e 14,4% eram pais e mães. Os maus-tratos são um desrespeito contra as crianças e ferem seus direitos. Concluiu-se que a situação é de urgência, necessitando mais estudos científicos e medidas sociais mais eficazes. Palavras-chave: Maus-tratos; Violência doméstica contra a criança; Agressão física.
Abusive families: an attempt of socialization through the violence
AbstractThe goal of the current study was to describe the profile of the families involved in complaints done to the SOS Criança of Curitiba from 1995 to 2000. The researchers examined the content of 400 documents, related to the record of the victimized children and adolescents (aged 0-18 years old). The analysis of the data (which delations were confirmed) revealed that most of the complaints (64,9%) came from neighborhoods. The complaints involved 51,0% cases of physical aggression, 34,4% of neglect, 7,3% of abandon and 7,3% of sexual abuse. About the victims: 48,5% were girls and 51,5% were boys. About the aggressors: 54,1% were mothers, 15,3% were fathers and 14,4% were both of them. Abuse is disrespect against children and their rights. Authors conclude that the situation is urgent, more scientific studies and more social attitudes are necessary. Keywords: Child maltreatment; Domestic violence; Child abuse.
IntroduçãoMaus-tratos contra crianças e adolescentes na esfera doméstica fazem parte de um debate que inclui tanto a criança como sujeito de direitos, quanto as práticas educativas parentais e o compromisso da comunidade em relação à prevenção e identificação dos casos. Entende-se maus-tratos como negligência (abandono e o não-oferecimento de necessidades básicas da criança) ou abuso físico, emocional ou sexual. Considera-se que existe ocorrência de violência física quando uma criança ou adolescente foi vítima de danos ou correu risco de danos como resultado de ser agredida com a mão ou outro objeto, ou ser chutada, sacudida, jogada, queimada, ou golpeada pelos pais ou responsáveis. Diversos autores (Newell, 1989;Straus, 1994;Hyman, 1997;Guerra, 1998;Azevedo & Guerra, 2001;Weber, 2001) consideram que bater nos filhos insere-se num só continuum de violência que vai desde uma simples palmada até o espancamento. Negligência física refere-se a prejuízo ou risco como resultado de formas inadequadas de nutrição, vestimenta, higiene e supervisão. Abuso emocional inclui abuso verbal, puni...