Embora se acredite que a produção de conteúdos artístico-culturais envolva a liberdade e a diversidade, o que se observa é um mercado de trabalho marcado por desigualdades de gênero, raça e classe social. Essas desigualdades se manifestam, principalmente, na sub-representação de alguns grupos no setor e na diferenciação de rendimentos entre os grupos. Ao considerar especificamente o grupo das mulheres, há evidências de sub-representação feminina no setor artístico-cultural, especialmente nas ocupações de criação e performance, além das dificuldades de progressão na carreira e, algumas vezes, rendimentos mais baixos que dos homens. Ressalta- se, ainda, que vários estudos já realizados comprovam a discriminação de rendimento enfrentada por mulheres no mercado de trabalho em geral e em alguns setores específicos. A partir desta compreensão, a presente pesquisa buscou averiguar a existência de discriminação de rendimento por gênero no setor artístico-cultural brasileiro. Para tal análise, empregou-se a decomposição de Oaxaca-Blinder, a fim de verificar a existência de diferencial de rendimentos entre homens e mulheres no setor e identificar se parte desse diferencial se atribui à discriminação por gênero. A decomposição foi realizada em dois modelos distintos, considerando os possíveis efeitos dos outliers, dado que o setor artístico-cultural apresenta grande variabilidade de rendimentos. Os resultados obtidos na pesquisa apontam para desigualdade de rendimentos favorável aos homens em 2018 e a parte deste diferencial atribuída à discriminação foi de 14,57% e 5,56%, nos dois modelos, respectivamente. Em 2015, os resultados sugerem desigualdade de rendimentos favorável às mulheres, no entanto, um dos modelos não apresentou significância estatística, de forma que os resultados podem ter sido afetados pela baixa representatividade das ocupações artístico-culturais no mercado de trabalho brasileiro. Além disso, confirmou-se que, para o ano de 2018, houve discriminação de rendimentos contra as mulheres do setor, apesar de a maior parte do diferencial ser atribuída às dotações dos grupos. Palavras-Chave: Trabalho Artístico-Cultural. Discriminação de Gênero. Decomposição de Oaxaca-Blinder.