Trata-se de estudo transversal com o objetivo de analisar os fatores associados ao acesso à Atenção Primária à Saúde em um conjunto de travestis e mulheres trans do Rio de Janeiro. Durante o período de julho de 2019 a março de 2020, 139 travestis e mulheres trans de um ambulatório especializado foram incluídas no estudo. Os resultados indicaram que 56,11% das travestis e mulheres trans tinham algum grau de acesso aos serviços de Atenção Primária à Saúde. A análise de regressão mostrou efeitos negativos para aquelas vivendo com HIV (RPa: 0,75; IC95%: 0,56-0,99; p-valor 0,049) e para as que eram solteiras (RPa: 0,71; IC95%: 0,53-0,95; p-valor 0,020) em relação à presença de Atenção Primária. As participantes com algum grau de acesso (matrícula na Atenção Primária) relataram baixa acessibilidade (Média: 3,02; IC95%: 2,58-3,47) e utilização (Média 5,59; IC95%: 4,71-6,47). Não foram encontradas diferenças significativas relacionadas a outros fatores. Apesar da expansão da cobertura de Atenção Primária à Saúde no país, este estudo destacou a assimetria no acesso de travestis e mulheres trans à Atenção Primária à Saúde do Rio de Janeiro. Se faz urgente a tomada de responsabilidade da Atenção Primária no reconhecimento de corpos trans e no provimento imediato de um atendimento mais integral a este grupo populacional.