Resumo: Embora fundamental para sua identidade, não foram feitos estudos sistemáticos para identificar a concepção dominante de ciência na Ciência Política brasileira e, a partir dela, o grau de cientificidade da produção acadêmica. Essa lacuna torna-se tanto mais crítica quando se estabelece uma identidade profissional que incorpora uma concepção específica de ciência. Para suprir essa lacuna, o artigo emprega uma abordagem pragmatista para identificar a concepção dominante de ciência na Ciência Política brasileira e, a partir dela, reconstruir a cientificidade da disciplina. Para fazer isso, analisou-se a produção de 23 periódicos nacionais A1, A2 e B1 listados no Qualis de Ciência Política. Em primeiro lugar, verificou-se que o valor dos periódicos, medido com o Qualis, do fator de impacto e do vínculo com a Ciência Política, varia em função de uma concepção ortodoxa de ciência, composta por orientação empírica, natureza das evidências, uso de estatística, apresentação e teste de hipóteses, causalidade e orientação nomotética. Em segundo lugar, a partir dessa concepção de ciência, é analisada a cientificidade de periódicos, áreas temáticas, tradições e abordagens disciplinares. Por fim, discute-se alguns riscos desse estado de coisas: (i) ao entronizar-se uma concepção de ciência particular na identidade disciplinar e (ii) ao conjugar-se positivismo lógico e instituições políticas formais.