Portugueses retornados: memória, cidadania e identidade (pós-)imperial

Abstract

Com o fim do império colonial, na sequência da Revolução do 25 de Abril de 1974, as fronteiras e a identidade da nação portuguesa são redefinidas. Neste contexto, foram repatriados das ex-colónias para Portugal cerca de meio milhão de cidadãos portugueses. A sua chegada a Portugal coloca questões importantes à identidade e à memória coletiva nacionais. Através de uma análise multidimensional da memória, a qual permite revelar a complexidade da produção e da reprodução memorial, este artigo aborda questões de cidadania e de identidade (pós-)imperiais relacionadas com os portugueses retornados. O texto destaca a fricção identitária resultante da não integração do retorno na memória coletiva nacional. A presença recente destes portugueses em África e a necessidade do seu retorno após o fim do império em 1975 questionam a narrativa do país dos Descobrimentos e dos “heróis do mar”, desafiando a ideia de uma história imperial sem conflitos coloniais e raciais.