EMBORA AS PRIMEIRAS DESCRIÇÕES de hipotiroidismo transitório em mulheres no período de puerperio datem de 1948, durante várias décadas esta condição despertou pouca atenção da literatura (1-3). Relatos de novos casos foram sendo feitos com freqüência cada vez maior e logo começaram a aparecer diversos estudos epidemiológicos e fisiopatológicos caracterizando-se, finalmente, a tiroidite pós-parto (TPP) como entidade clínico-nosológica (4).Inicialmente, a doença foi considerada como uma forma de tiroidite sub-aguda sem dor (5). Atualmente, com a demonstração de associação com antígenos DR e antígenos anti-tiroidianos, pela presença de infiltração linfocitária na tiróide, com diminuição da razão linfócitos T helper / T supressores durante a gravidez e no pós-parto, associada com grande ativação das células T no puerperio, a doença é considerada como uma patologia autoimune transitória relacionada à hiperatividade imunológica do puerpério (4,6-8).Também tem ficado patente que se trata de condição relativamente comum. Estima-se que atinja 4,9% das mulheres no primeiro ano pós-parto, variando sua prevalência na literatura entre 4,2% e 19,7% (6).Neste número dos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, Barros e Vaisman (9) encontraram uma prevalência similar, diagnosticando quatro portadoras de TPP dentre 115 pacientes. Demonstraram ainda uma associação entre a presença de anticorpos antitiroidianos durante a gravidez e no período pós-parto, com o desenvolvimento de TPP e de hipotiroidismo sub-clínico. Existem, também, evidên-cias de correlação entre anticorpos anti-TPO e outros anticorpos antitiroidianos com o desenvolvimento da doença de Basedow-Graves puerperal (10). Mais ainda, um quarto das mulheres com TPP desenvolvem hipotiroidismo permanente num período de quatro anos após o parto (11). Desta forma, a TPP é um indicador de futuras disfunções tiroidianas, embora não esteja ainda claro se a gravidez inicia um processo destrutivo da glândula ou simplesmente exacerba uma lesão pré-existente. Assim, apresenta-se uma interessante oportunidade para a prevenção de disfunções que, além de freqüentes, podem ser de grande morbidade, causando inúmeros transtornos à mulher e ao seu filho, particularmente quando se associam à depressão pós-parto.Um grande mérito do artigo de Barros e Vaisman (9), reside em demonstrar como podem ser obtidos dados científicos de valor e de aplicação prática imediata, de forma simples e com custos relativamente pequenos. A pesquisa clínica tem sido relegada a um segundo plano, desmotivada e desvalorizada, particularmente nos grandes centros universitários. Ora, em nosso país mal conhecemos muitas de nossas doenças mais prevalentes. No caso das tiroidopatias, isto se torna crucial quando lembramos que ainda possuímos grandes bolsões de áreas iodoprivas. Se somarmos a esta informação as alarmantes incertezas sobre o programa de correção da carência crônica de iodo no país, é de se imaginar que possuí-