Partindo do reconhecimento das desigualdades sociais que caracterizam o Brasil, também marcadas pelos processos de urbanização que constituíram grande parte das cidades, observa-se que os modos de entender sujeitos são produzidos por meio de diferentes dinâmicas culturais que os diferenciam entre si. Neste sentido, os jovens são representados, muitas vezes, em associação às parcelas espaciais das quais fazem parte, como periferias e áreas centrais e/ou nobres. Os produtos midiáticos, como os jornais, articulam-se a este processo, educando e produzindo verdades a partir das matérias que publicam sobre o tema. Assim, esse trabalho tensiona os modos como são produzidas verdades sobre os jovens de periferia nas reportagens do jornal O Globo, um dos mais lidos do país. A investigação foi realizada a partir das lentes dos Estudos Culturais, de ferramentas foucaultianas e do tensionamento de 40 reportagens publicadas entre os anos de 2017 e 2022. Para suporte das discussões, foram utilizados textos de autores que discorrem sobre o campo da educação e sobre as condições que atravessam os jovens que vivem em periferias brasileiras. Partindo disso, identificou-se que os jovens, nas matérias tensionadas, são frequentemente educados para o reconhecimento das espacialidades que lhes produzem, periféricas, e aquelas que devem almejar, mais centrais ou nobres. Além disso, aborda-se a necessidade de superação de suas dificuldades a partir de movimentos empreendedores, individualizados, que seriam capazes de libertá-los dos cotidianos em que vivem. Neste sentido, destaca-se que a fragilidade das políticas públicas produz vulnerabilidades, conforme abordado nas matérias, mas estas focam na valorização das ações sociais e de movimentos de autossuperação como possibilidades de transformação de vida.