Prazer e sofrimento no trabalho: estudo com mulheres terceirizadas que atuam nos serviços gerais em uma Instituição Federal de Ensino Superior

Abstract

Este estudo buscou descrever e analisar as vivências de prazer e sofrimento no trabalho de mulheres terceirizadas que atuam nos serviços gerais em uma Instituição Pública de Ensino Superior no estado de Minas Gerais. Com vista a atender os objetivos da pesquisa, foi realizada uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. A coleta de dados se deu por meio de cinco entrevistas semiestruturadas com mulheres terceirizados que atuam na Instituição pesquisada. Os principais resultados apontaram que as entrevistadas consideram o seu trabalho prazeroso e tranquilo, possuindo tempo disponível para realização das tarefas. Com relação ao sentido do trabalho, as vivências de prazer se manifestam por meio dos incentivos, elogios e orgulho pelo trabalho realizado e recompensa financeira. As vivências de sofrimento foram manifestadas pelas cobranças excessivas, pela falta de reconhecimento, pelo monitoramento excessivo e a falta de liberdade para trabalhar. As mulheres utilizam estratégias individuais para lidar com a fiscalização e a cobrança por desempenho e procuram exercitar o autocontrole, desabafar com colegas do trabalho, relaxar e voltar-se para a família. Em se tratando de danos físicos, as entrevistadas sofrem com tendinite, problemas de coluna, problemas de circulação e hérnia de disco. Em termos de danos psicossociais, elas vivenciaram conflitos nas relações familiares ou sociais em decorrência da situação de trabalho.

Até que ponto eu aguento! Vivências de prazer e sofrimento de terceirizados em uma instituição federal de ensino superior

“…Vivências de prazer e sofrimento de terceirizados em uma instituição federal de ensino superior Laíse do Nascimento Silva, Elane dos Santos Silva Barroso, Marcos Antonio Cavalcante de Oliveira Júnior, Linnik Israel Lima Teixeira O profissional sofre ao se deparar com uma situação de descaso com o ser humano e se vê obrigado a aceitar por sua realidade como indivíduo e muitas vezes como produtor da renda familiar (Druck et al, 2019). Dessa maneira, o desgaste físico e mental do trabalhador terceirizado é equiparado aos insumos produzidos por máquinas, para tanto, essa excessiva jornada de adquirir serviços de terceiros minimiza gastos trabalhistas obrigatórios, mas não melhora o desempenho dos profissionais contratados e não aumenta os ganhos da empresa como se imagina (Silva & Garcia, 2018;Trebien et al, 2021).…”

“…Posto isso, abordagens teóricas, como a psicodinâmica do trabalho proposta por Dejours na década de 1990, têm sido amplamente consideradas na discussão dos fatores de vivências de prazer e sofrimento no trabalho, inclusive no âmbito da terceirização (Silva & Garcia, 2018;Almeida et al, 2022). Esse autor define o sofrimento como um fator que o indivíduo tem em seus atributos mentais e físicos, cujo propósito está em superá-lo buscando meios que amenizem as insatisfações ocasionadas pela ineficiência e desvalorização fornecida ao colaborador na efetivação de seu ofício (Dejours, 2014).…”

Riscos psicossociais no trabalho de auxiliares de cozinha de uma indústria

“…O sofrimento no trabalho pode estar relacionado a diferentes necessidades, sendo específico de pessoa para pessoa (Silva & Garcia, 2018) apesar disto, o olhar para o contexto de trabalho como um todo é fundamental para reconhecer os possíveis fatores desencadeadores deste sofrimento (Merlo & Mendes, 2009). As condições oferecidas pela organização do trabalho e pela gestão dos aspectos técnicos e burocráticos são determinantes para o manejo e o destino do sofrimento mental do trabalhador frente aos riscos psicossociais no ambiente de trabalho (Jacinto et al, 2020).…”

Burocracia e Identidade Profissional de Terceirizados

“…A terceirização na administração pública, em especial nas universidades federais, mostrou-se prejudicial para os indivíduos terceirizados no que se refere, principalmente, aos seus aspectos identitários. Em estudos recentes foram destacados aspectos como salários baixos e atrasados (Barbati et al, 2016), falta de identificação com as organizações (Silva & Garcia, 2018), concessão de privilégios e apadrinhamentos (Camilo & Costa, 2019;Santos et al, 2019), invisibilidade dos funcionários (Lara et al, 2020), hierarquias informais junto aos efetivos, rotatividade (Camilo & Costa, 2019) e não investimento em qualificação e treinamento dos funcionários (Santos et al, 2019).…”