O eletrocardiograma representa o registro gráfico das fases do ciclo cardíaco e é utilizado para o diagnóstico de arritmias ou distúrbios de condução. No entanto, a confiabilidade dos resultados pode ser influenciada pelo grau de experiência dos avaliadores. Devido à possibilidade de variação de resultados de um mesmo exame entre os ciclos cardíacos e entre analisadores de diferentes níveis de experiência, o estudo teve como objetivo avaliar a variabilidade interobservador e entre ciclos cardíacos durante a avaliação de exames eletrocardiográficos de cães. A pesquisa foi conduzida de forma retrospectiva na Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Realeza – PR. Para a análise eletrocardiográfica foram selecionados aleatoriamente exames de 50 cães, gravados em arquivos computadorizados durante o período de setembro de 2018 a dezembro de 2019, independente da raça, sexo, idade e peso. Foram avaliados frequência e ritmo cardíaco, durações de onda P, complexo QRS, intervalo PR e intervalo QT, amplitudes de onda P, R e T, e eixo elétrico atrial e ventricular. Os dados foram analisados por teste de normalidade de Shapiro-Wilk, sendo os dados paramétricos analisados por análise de variância seguido por Teste de Tukey e os dados não paramétricos pelo Teste de Kruskal-Wallis, seguido pelo Teste de Dunn. Como última etapa, os dados foram submetidos ao Teste de Coeficiente de Concordância de Kappa. Evidenciou-se variabilidade na interpretação de ritmos cardíacos com discordância de avaliadores de nível baixo e intermediário, diferença da frequência cardíaca máxima do avaliador de baixo nível de experiência que subestimou os valores, obtendo mediana de 105, enquanto o de alto nível obteve mediana de 122 (p=0,0100). Ainda, evidenciou-se superestimação da duração da onda P pelos avaliadores de nível baixo e intermediário, que encontraram medianas de 52 e 51 respectivamente, enquanto o de alto nível obteve mediana de 48 (p=0,0064). Em relação a diferentes ciclos cardíacos, não houve diferenças entre a análise de apenas um ciclo em relação a três ciclos ou a média de três ciclos. Por meio do estudo foi possível evidenciar a variabilidade na interpretação entre avaliadores com diferentes níveis de experiência, em relação a duração da onda P, em que os avaliadores superestimaram os valores e em relação aos graus de concordância que não representaram os níveis de experiência dos avaliadores na análise do todas as variáveis, ressaltando a importância do treinamento e rotina de exames eletrocardiográficos para evitar interpretações e análises equivocadas.