ResumoO ateroembolismo é uma doença multisistêmica que afeta vários órgãos, entre os quais o rim, através da liberação de êmbolos de colesterol de uma placa aterosclerótica erosada, ocasionando obstrução vascular em diversos tecidos. A doença renal ateroembólica (DRAE), histologicamente representada por cristais de colesterol nas arteríolas do rim acompanhados de um infiltrado inflamatório perivascular, é causa de insuficiência renal aguda muitas vezes grave e prolongada, que ocorre semanas ou mesmo meses após o episódio embólico. A DRAE apresesenta prognóstico ruim com elevada mortalidade. Apresentamos neste relato o caso de um paciente com DRAE que se manifestou clinicamente dois meses após a realização de um cateterismo cardíaco seguido de uma angioplastia coronária. A prevalência, manifestações clínicas, histologia renal, tratamento e o prognóstico da DRAE são discutidos. unitermos: Embolia de colesterol. Cateterismo cardíaco. Insuficiência renal aguda.
intRoduçãoO ateroembolismo é uma doença multisistêmica, afetando diversos órgãos como pele, rins, trato gastrointestinal e sistema nervoso central. Em 25% dos casos podem ocorrer de forma espontânea, mas na maiora das vezes é uma complicação de procedimentos endovasculares e/ou terapia anticoagulante ou trombolítica, quando êmbolos de colesterol deslocam-se de uma placa aterosclerótica erosada de uma grande artéria (em geral a aorta) e ocluem pequenas artérias e arteríolas em diferentes órgãos, ocasionando infarto isquêmico. A doença renal ateroembólica (DRAE) pode ser definida como uma insuficiência renal secundária à oclusão das artérias e arteríolas renais por êmbolos de colesterol que se depositam na forma de cristais [1][2][3][4][5] . A incidência exata da DRAE não é conhecida, pois muitos casos não são diagnosticados ou são identificados post-mortem 1,2 . A sua apresentação clínica é variável, desde um quadro subclínico até uma doença fatal. O método diagnóstico mais acurado é a biópsia renal, que mostra cristais de colesterol ocluindo artérias interlobulares e arteríolas, acompanhados de infiltrado inflamatório mononuclear e eosinofílico 1,2,5 . A DRAE é uma complicação devastadora da doença aterosclerótica, e até o momento não tem um tratamento que seja específico e eficaz 1,2, 6-8 .
casoPaciente de 54 anos, branco, do sexo masculino, 83 kg, admitido no hospital com quadro de síndrome coronariana aguda (SCA) e supradesnível no segmento ST, sugerindo infarto inferior. Foi submetido à terapia trombolítica com estreptoquinase. Contudo, não houve sinais clínicos e eletrocardiográficos de reperfusão.Na admissão, o paciente apresentava creatinina sérica de 0,9 mg/dl e uma filtração glomerular estimada de 70,3 ml/minuto. Realizou cateterismo cardíaco no dia seguinte à identificação de uma lesão severa na coronária descendente anterior (ADA) e oclusão proximal da coronária direita (ACD). Foi então submetido à angioplastia coronária e colocação de stent na ADA. Devido a dificuldades técnicas não foi possível ultrapassar a lesão da ACD, e duas semanas após foi ...