A observação que os doentes psoriáticos têm maior incidência de diabetes mellitus, obesidade, hipertensão, dislipidemia é já bem conhecida.1 A primeira observação de uma comorbilidade associada à psoríase foi feita em 1897 quando Strauss reportou a relação com diabetes.2 Em 1961, Reed e colaboradores descreveram a elevada prevalência de doença cardíaca -trombose coronária e enfarte agudo do miocárdio -em autópsias de doentes com artrite psoriática. 3 Na década de 70, foi observada o aumento de prevalên-cia de doença arterial e venosa em doentes internados com psoríase.4,5 Desde então, têm-se avolumado os estudos que comprovam esta relação, não apenas em adultos, mas também em crianças.6 Apesar destas evidências, os doentes psoriáticos permanecem subdiagnosticados e subtratados para estes factores de risco.
7O carácter crónico e por vezes incapacitante da doença contribui para um compromisso biopsicossocial de indivíduos afectados, comparável a outras doenças major.8 Associa-se a hábitos de vida menos saudáveis, como o sedentarismo e o tabagismo, e a uma pletora de perturbações do humor como a depressão, ansiedade, alterações da auto-imagem e suicídio.9 Num estudo português recente, foi demonstrado que doentes internados por psoríase grave tinham um consumo aumentado de psicofármacos quando comparados com um grupo controlo ajustado à idade e ao sexo.
10As ligações entre a psoríase e a doença gastrintestinal foram sendo reforçadas ao longo destes anos. Na doença inflamatória intestinal, que partilha genética e vias inflamatórias comuns com a psoríase, parece ser a doença de Crohn a mais fortemente associada.11 No campo da doença hepá-tica, uma meta-análise de sete estudos observacionais revela que a esteatose hepática não alcoólica é mais prevalente em doentes com psoríase, ainda que os trabalhos revistos não tenham ajustado para factores interferentes como a presença de síndrome metabólica.12 Ainda assim, um estudo populacional inglês demonstrou que a psoríase estava associada a uma prevalência de doença hepática ligeira -hepatite cró-nica, doença hepática alcoólica e esteatose hepática não alcoólica -mais evidente na medida de aumento da área corporal afectada. 1 O uso de técnicas epidemiológicas modernas e a evolução científica no campo da genética e no conhecimento da fisiopatologia das vias da inflamação sistémica têm posto a descoberto comorbilidades emergentes como a doença renal crónica, a doença pulmonar obstrutiva crónica, a doença péptica, a disfunção sexual e a apneia obstrutiva do sono.
13Neste número da Revista da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), revisita-se a relação da terapêutica com fármacos anti-TNF alfa na psoríase com a doença metabólica. Numa extensa e cuidada revisão, os autores analisam a evidência actual do impacto dos inibidores do TNF-alfa na função endotelial e no risco de doença cardiovascular nos doentes com psoríase moderada a grave, evocando-se, entre outros, os mais robustos estudos que suportam a redução desse risco.14,15 Contudo, como os autores sublinh...