Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro 1-10 1Quaternary prevention: a gaze on medicalization in the practice of family doctorsPrevenção quaternária: um olhar sobre a medicalização na prática dos médicos de família
AbstractThe medicalization is a complex and widespread social phenomenon which involves different agents and institutions, such as the pharmaceutical and medical industry, governments, health systems, health professionals, and citizens. In this regard, doctors and health professionals play an important role in reproducing and struggling with medicalization, by recognizing that medicine and health care can generate as much harm as benefits. Family doctors have to deal with overmedicalization and its associated phenomena (i.e. overdiagnosis, overtreatment, disease mongering) on a daily basis as they act as gatekeepers of health systems. As the first point of contact, family physicians and their health teams get the demands and social needs brought by individuals and communities under their care, which usually are influenced by the health marketing and an interventionist medical perspective. This article discusses some key concepts of medicalization and its determinants, especially the contributions of biomedical science and its epistemological basis to the phenomenon. It also briefly develops some thoughts on the medicalization, in the Brazilian context. Finally, it analyses the quaternary prevention approach to medicalization which proposes changes in its object and attitude to medical practice in order to avoid unnecessary interventions, thus, protecting patients from the excesses of medicine.
ResumoA medicalização é um fenômeno social complexo e disseminado no qual estão envolvidos diferentes agentes e instituições, tais como a indústria médica/farmacêutica, governos, profissionais/sistemas de saúde e cidadãos. Por sua vez, médicos e profissionais de saúde desempenham importante papel na reprodução e no enfrentamento da medicalização, haja visto que a medicina e os cuidados em saúde podem gerar tanto danos como benefícios. Médicos de família lidam diariamente com a sobremedicalização e seus fenômenos associados (i.e. sobrediagnóstico, sobretratamento, comercialização de doenças) por desempenharem função-filtro nos sistemas de saúde. Por ser o primeiro ponto de contato, esses profissionais e suas equipes acolhem as demandas e necessidades sociais trazidas pelas pessoas e comunidades sob seus cuidados, que comumente estão influenciadas por uma perspectiva médica intervencionista e pelo marketing da saúde. Este artigo discute alguns conceitos principais da medicalização e seus determinantes, em especial as contribuições da ciência biomédica e suas bases epistemológicas para o fenômeno. Ele também desenvolve, sucintamente, algumas reflexões sobre a medicalização na prática do médico de família e comunidade, no contexto brasileiro. Por fim, analisa o enfoque da prevenção quaternária acerca da medicalização, que propõe mudanças de objeto e de atitude na prática médica, evitando, assim, intervenções de...