A incorporação e partilha das concepções culturais dominantes acerca da sexualidade, da violência, da violação e de outras formas de violência sexual têm consequências tanto para a vida dos indivíduos como para a vida em sociedade. Atitudes sexistas e crenças legitimadoras da violação têm consistentemente sido associadas com uma maior probabilidade de agressão e violência sexual. As atitudes face à violência sexual parecem também estar associadas com os papéis tradicionais de género, sobretudo os que se prendem directamente com o comportamento sexual. A ECVS mede o grau de tolerância/aceitação do sujeito quanto ao uso de violência desta natureza. Quanto mais elevada for a pontuação total da escala, mais elevado será o grau de tolerância/aceitação do sujeito quanto ao uso de violência sexual. A ECVS foi administrada a uma amostra nacional de 1000 estudantes universitários, analisando-se as suas características psicométricas. A análise factorial de componentes principais (com rotação varimax) permitiu obter cinco factores. A consistência interna da escala, obtida através do coeficiente alpha de cronbach, é de 0.91. Discutem-se as implicações dos resultados obtidos, quer em termos da análise da capacidade da ECVS para detectar atitudes e crenças associadas com a violência sexual, quer em termos da análise do seu contributo na construção e implementação de programas de intervenção e prevenção.Palavras-chave: Atitudes, Crenças, Mitos sobre violação, Violência sexual.
INTRODUÇÃOA ECVS mede o grau de tolerância/aceitação do sujeito quanto ao uso de violência de natureza sexual. A necessidade de construção da escala foi sentida a partir da constatação da inexistência de instrumentos aferidos para a população portuguesa neste domínio e insere-se num projecto mais vasto de investigação (incorporado no projecto "Violência nas Relações Juvenis de Intimidade" -PTDC/PSI/65852/2006, financiado pela FCT e coordenado pela Professora Doutora Carla Machado) que, globalmente, pretende: (a) disponibilizar instrumentos de investigação, adaptados para a população portuguesa, no domínio da violência sexual; (b) recolher dados sobre a prevalência e incidência dos diferentes tipos de violência sexual (i.e., contactos sexuais indesejados, coerção sexual, tentativa de violação e violação) junto de jovens adultos, estudantes universitários, com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos de idade, tanto ao nível da vitimação quer como da perpetração; (c) conhecer o posicionamento destes jovens face a estas formas de violência (procurando identificar o grau de tolerância/legitimação em relação a estes
177Este texto foi elaborado no âmbito do Projecto "Violência nas Relações Juvenis de Intimidade" financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PTDC/PSI/65852/2006), coordenado por Carla Machado.A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Sónia Martins,