Esta dissertação tem por objetivo discutir a relação entre rito fúnebre, corporalidade e noção de pessoa entre os Kiriri. Complementarmente, o texto também trata dos invisíveis (mortos e os encantados) e dos estados de adoecimentos (conhecidos como doença de índios) provocados por eles. Os sonhos e o processo de retomada linguística também são tematizados, de modo tangencial. Em resumo, o estudo aborda a morte e a produção da vida, consideradas como polos opostos e simultaneamente relacionais. As etapas e protocolos que compõem o rito fúnebre Kiriri são analisados detidamente, sendo eles entendidos como honraria e obrigação dos vivos para com os mortos, em caso de não observância do ritual mortuário os parentes afins e consanguíneos poderão ser acometidos por estados de adoecimento (doença de índio), expressos através da categoria surrar. As doenças, sejam elas provocadas pelos invisíveis ou não, colocam a condição de pessoa em instabilidade física e ontológica, instalando o princípio da alteridade. Nesse sentido, há uma aproximação entre os sonhos e doenças, pois embora o universo onírico seja um espaço de acesso a perspectivas e conhecimentos, os encontros com diferentes subjetividades nesse espaço são imprevisíveis e perigosos, visto que há sempre a possibilidade de ter aquilo que anima o corpo roubado. A questão do corpo é fundamental para os Kiriri, pois através da produção do corpo fechado (forte) eles conseguem habitar um território compartilhado com invisíveis, dado que há sempre, à espreita, a possibilidade de ser afetado negativamente por distintos agentes cosmológicos, seja por ter infringido um código ético e moral na relação com eles ou por desejo deles em ter para si o espírito do vivente. Deste modo, a noção de pessoa é discutida a partir da questão do corpo e das partes da pessoa (espírito/anjo da guarda) Kiriri.Palavras-chave: Povo Kiriri. Rito fúnebre. Corporalidade. Noção de pessoa. Doença de índio.