Realizamos a leitura do estudo de Melo et al. 1 , e gostaríamos de parabenizar os autores por esse excelente artigo e fazer algumas contribuições. O artigo teve como objetivo avaliar as reações adversas a medicamentos (RAMs) nos pacientes com COVID-19 e os fatores associados ao surgimento de reações graves. Nesse contexto, considero pertinente trazer à discussão a questão da automedicação. A automedicação é um hábito no Brasil, sendo comum em aproximadamente 77% dos brasileiros, segundo dados do Conselho Federal de Farmácia (CFF) de 2019. O pânico instalado pela pandemia do COVID-19 contribuiu negativamente para o aumento desse hábito 1 .As redes sociais disponíveis por intermédio da Internet, no cenário da pandemia, são um importante canal de comunicação, contudo, mostrou-se também ser um veículo de compartilhamento de fake news. Há propagação em massa de informações contrárias às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Dessa forma, a desinformação, bem como a negação da ciência, tem contribuído para que as pessoas se automediquem 2 .De acordo com um levantamento realizado pela consultoria IQVIA (Instituto de Pesquisa e Pósgraduação para o Mercado Farmacêutico), houve um aumento de 180% nas vendas de vitamina C. Fato ocorrido também com a hidroxicloroquina, que teve suas vendas aumentadas em cerca de 68% entre janeiro e março, depois de ser defendida como suposta cura para a COVID-19. É importante lembrar à população que mesmo medicamentos isentos de prescrição, como é o caso da vitamina D, podem causar danos quando usados sem indicação e orientação profissional 1 .A automedicação não coloca apenas a saúde individual em risco, como é o caso nas reações adversas. Há também prejuízo coletivo, visto que as pessoas que se automedicam podem ter a falsa sensação de segurança contra a infecção causada pelo novo coronavírus, tendendo a desrespeitar o isolamento social e as orientações da OMS. Além disso, o uso indiscriminado de antibiótico, como é o caso da azitromicina, contribui para o desenvolvimento da resistência bacteriana, que também gera um problema coletivo 3,4 .Em última análise, o aumento da automedicação é explicado pela insegurança e pânico trazidos pela situação de pandemia, aliado à desinformação e à negação da ciência. As consequências vão além do âmbito individual, contribuindo para o colapso do sistema de saúde como um todo 5 . Portanto, a automedicação é um tema que merece atenção da comunidade científica, principalmente no que diz respeito ao combate a notícias falsas com informação.
CARTA LETTER
Carta às Editoras sobre o artigo de Melo et al.Letter to the Editors on the paper by Melo et al.Carta a las Editoras sobre el artículo de Melo et al.