ResumoTucídides é apelidado com frequência de pai das Relações Internacionais (RI). Dentro da disciplina, trava-se um debate acerca da sua visão analítica, sendo invocado como percursor de diferentes escolas teóricas. Apesar da existência de leituras simplistas que descontextualizam passagens e aceitam a primeira tradução que encontram, mesmo uma interpretação cuidadosa mostrará que a sua História da Guerra do Peloponeso dá espaço para interpretações diferentes à luz das principais teorias das RI. Este artigo faz a revisão do debate em torno de Tucídides na teoria das RI, apresentando as principais barreiras à compreensão de Tucídides, considerando as diferentes tentativas de apropriação da sua obra e respetivas críticas e, por fim, argumentando que o maior contributo da sua obra para a disciplina está no ecletismo, na ambiguidade e na primazia do concreto sobre o abstrato. A união destas características resulta numa postura teórica semelhante à da raposa no fragmento do poeta grego do séc. VII Arquíloco, que Isaiah Berlin aplicou, com reservas, a Tolstói. A postura tucidideana -eclética, cética e pluralistapode e deve ser adotada por analistas das RI nos nossos dias.