Reconhecimento como categoria de crítica cultural

Abstract

Neste artigo objetivo investigar as articulações entre política do reconhecimento e crítica cultural. Examino como a crítica jornalística de ficção audiovisual manifesta aspectos desse paradigma por meio de três relações não excludentes: a identificação e análise do reconhecimento como perspectiva estruturante da obra; o reconhecimento como valor de aferição; e como demanda mais complexa por paridade imagética. Para isso, analiso a crítica de filmes como Pantera Negra e O estranho que nós amamos. Os resultados apontam para a emergência de uma crítica menos estética do que ética, que privilegia aspectos identitários das personagens e questões de representatividade na indústria audiovisual. O artigo propõe, ao final, o desafio de se articular o valor de reconhecimento a fatores estéticos para uma análise mais ampla do discurso audiovisual.

Angola Janga: a circulação crítica de uma história de reconhecimento

“…(SPINOSA, 2003) 132 Em Angola Janga, as abordagens ligadas às questões de reconhecimento foram determinantes nos veículos informativos em que o trabalho foi avaliado. Entendemos que lutas anti-opressão, muitas vezes enquadradas como identitárias, têm sido cada vez mais incorporadas pelas narrativas midiáticas (em filmes, telenovelas, séries televisivas e também nos quadrinhos), e que essa política se tornou também valorosa para a crítica, conforme destaca Márcio Serelle (2019). Na observação do autor, "[...] o reconhecimento tornou-se, mais que chave para leitura de algumas obras, valor para apreciação delas" (SERELLE, 2019, p. 12).…”

Demandas por diversidade como parâmetro para a crítica da/na mídia

“…De todo modo, as políticas de reconhecimento têm se tornado tanto elemento interno da obra (no nível da produção) quanto chave de leitura e parâmetro de apreciação não só na crítica socialmente dispersa, mas também entre parte da crítica especializada (SERELLE, 2019). Portanto, a partir das colocações propostas neste ensaio, o conteúdo disponibilizado no canal Ora Thiago pode ser apontado como exemplo consistente e relevante de como a crítica da/na mídia pode ser feita dentro das novas plataformas, seguindo suas lógicas de funcionamento e sem superficialidade.…”

Os limites dos feminismos midiáticos: Mulher-Maravilha e uma nova subjetividade feminista contemporânea

“…Marcio Serelle (2019), ao examinar a crítica jornalística contemporânea, também aponta que o paradigma do reconhecimento, agora central para as políticas culturais, tem passado a incidir sobre as narrativas midiáticas e suas representações (tornando-se estrutura, elemento interno das obras), bem como sobre a crítica jornalística (tornando-se chave para leitura de algumas obras e valor para apreciação delas). No entanto, o autor não associa necessariamente tal aplicação do reconhecimento como valor de aferição de obras culturais a um esvaziamento das lutas sociais, mas o pensa como uma "[...] demanda por paridade imagística na cultura midiática [...]" (Ibid., p. 12)lembrando que as personagens de ficção abrem possibilidades para que os públicos experimentem identidades por meio delas e articulam o representado e o vivido -, mas que não deve ser critério unilateral aplicado pela crítica, que ainda deve levar em conta critérios estéticos.…”