Reflexo da pandemia Covid-19 nas ações da assistência estudantil: análise nas instituições federais de ensino superior

Abstract

Ao redor do mundo, as organizações tiveram que responder ao surto de Covid-19 com informações limitadas e enfrentando muitas incertezas. Assim, o presente estudo objetiva examinar o reflexo da pandemia Covid-19 nas ações da assistência estudantil. Especificamente, analisa quais as ações praticadas antes e durante a pandemia de Covid-19 nas 69 instituições federais de ensino superior do Brasil. Para tanto, revisa a literatura sobre assistência estudantil nas IFES e os efeitos da pandemia de covid-19 nas organizações e no ensino. Utilizou-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa e coleta de dados obtida de pesquisa documental. Os resultados apontam que as mudanças nas ações que não envolveram benefícios pecuniários, como oferta de alimentação nos restaurantes universitários e ações de saúde, esporte e cultura, que antes realizadas nas estruturas da universidade, passaram a ser oferecidas, dentro das possibilidades, de modo remoto. Por fim, a área da inclusão digital merece um destaque, tendo em vista que estas ações configuravam última colocação no rol das ações praticadas antes da pandemia. O estudo contribui em demonstrar as fragilidades e as limitações inerentes as ações praticadas pelas IFES, bem como refletir sobre a complexidade das ações que permeiam fazer a assistência estudantil em época de pandemia.

Assistência Estudantil à luz da accountability: instrumento de medição em portais eletrônicos

“…O Quadro 1 mostra se a referida IFES tem a ação, considerando apenas as 24 instituições que responderam ao questionário. A partir desse resultado, há um desbalanço nas ações que são realizadas pelas IFES, bem como não são realizadas em sua totalidade (Ferreira, Sanabria & Cintra, 2023, Souza & Cintra, 2020, onde se percebe nitidamente que algumas ações não têm recebido a atenção devida (Cintra et al, 2022. Nota-se que dentre as dez as ações contidas no Decreto: atenção à saúde (4), cultura (6), esporte (7); creche (8) e acesso, participação e aprendizagem para estudantes com deficiência e outros transtornos (10) são as menos praticadas.…”

“…Os resultados corroboram as críticas, que 6 das 10 ações reforçam o processo de bolsificação, pois acabam se concentrando no oferecimento de bolsas para auxílio financeiro e deixam em segundo plano as ações sem pecúnias ao estudante (Ferreira, Sanabria & Cintra, 2023). Outro ponto é a inclusão digital, que foi a ação menos frequente e, portanto, a pandemia obrigou um olhar diferente no atendimento deste item (Cintra et al, 2022).…”

A In(ex)troversão dos Alunos de Nível Superior nas Aulas Online

“…Esse modelo de ensino adotado no Brasil é nomeado como Ensino Remoto Emergencial (HODGES et al, 2020;BRASIL, 2020), e levou as Universidades Federais a buscarem soluções para a adaptação ao novo formato, fornecendo capacitação dos professores, suporte a soluções tecnológicas, logísticas, pedagógicas e socioafetivas (AMARAL; POLYDORO, 2020;de FREITAS JORGE et al, 2023). Quanto aos discentes, estudos evidenciam dificuldades à infraestrutura, autorregulação de comportamento, falta de domínio de recursos e competências digitais (AMARAL; POLYDORO, 2020;CINTRA et al, 2022), falta de interesse, motivação e engajamento (MUSLIMIN; HARINTAMA, 2020; ADNAN; ANWAR, 2020). Outro elemento relevante sobre a dificuldade dos discentes é observado na baixa adesão dos discentes à utilização das webcams e dificuldades relacionadas à autopercepção de sua aparência e de sua residência (CASTELLI; SARAVAY, 2021).…”

“…O ERE e seu processo de ensino-aprendizagem utilizam práticas pedagógicas mediadas por plataformas e dispositivos digitais (MOREIRA; HENRIQUES; BARROS, 2020), aplicativos com os conteúdos, tarefas, notificações, e-mail, Whatsapp, skype, chats e fóruns, e/ou plataformas como o Teams, Google classroom, Google Meet, Zoom entre outras (CASTELLI, SARAVAY, 2021; SERHAN, 2020), e exige rápida adaptação de alunos e professores(SILVEIRA et al, 2020;APPENZELLER, 2020;ALVES, 2020). Dessa forma, foram percebidos desafios relacionados a essa adaptação por parte dos discentes como a ausência ou a precariedade de infraestrutura(DA SILVA et al, 2021;CINTRA et al, 2022), falta de domínio de recursos e competências digitais, autorregular seu próprio comportamento e as estratégias de estudo independente (AMARAL; POLYDORO, 2020), a falta de interesse, motivação e engajamento (SILVA; BRETAS, 2021; MUSLIMIN; HARINTAMA, 2020; ADNAN; ANWAR, 2020). E, mesmo os professores que já estavam habituados ao uso desta tecnologia, encontraram obstáculos no processo, passando por uma busca constante do melhor aproveitamento das aulas, do aprendizado e das melhores ferramentas de avaliação(BOZKURT et al, 2020).…”

O orçamento do PNAES e a “fatia” do esporte e lazer nas universidades federais brasileiras: mais do mesmo!?

“…Além disso, parece existir intenção de desmonte das universidades públicas e as consequências advindas dos efeitos da pandemia da Covid-19 (Cintra et al, 2022), que ainda não se sabe por quanto tempo ainda irá perdurar, afetando a vida e o futuro de diferentes segmentos da sociedade, especialmente, os estudantes socioeconomicamente vulneráveis, configurando uma política de desmonte de direitos, contrariando a perspectiva da assistência estudantil como instrumento de uma educação transformadora (Santos et al, 2021). As ações de esporte e lazer parecem continuar em segundo plano (ou até terceiro plano) frente às prioridades elencadas pelos gestores do recurso PNAES, que contam cada vez menos com a disponibilidade de recursos na gestão da AE.…”