Este ensaio teórico objetiva discutir como a análise das práticas de cuidado multiespécies pode contribuir para a compreensão de modos de vida via turismo rural no contexto do antropoceno. Foi realizada uma revisão bibliográfica buscando relacionar práticas de cuidado multiespécies no antropoceno e turismo rural. O percurso argumentativo foi realizado da seguinte forma: primeiramente, buscou-se elucidar acerca das práticas de cuidado multiespécies; doravante, foram evidenciadas características que permeiam a prática do turismo rural e, por fim, realizaram-se aproximações entre as práticas de cuidado multiespécies e o turismo rural, com vistas a elucidar formas que permitam melhor compreender o fenômeno considerando-se modos de vida no antropoceno. Sistematizamos a contribuição da nossa análise em três eixos básicos: (1) uma perspectiva do cuidado multiespécies permite ampliar a compreensão da prática do turismo rural ao evidenciar os emaranhados situados e corporificados que constituem plantas, humanos e outros animais; (2) essa ampliação permite levar em consideração teoricamente as agências desses outros seres para pensar formas de vida conjunta; (3) ao mesmo tempo em que mostra que, mesmo em se tratando de práticas de cuidado, essas práticas não são homogêneas nem harmoniosas, mas implicam relações de poder e diferentes graus de vulnerabilidade para humanos e não-humanos. Concluímos que as práticas de cuidado multiespécies podem ser ferramentas analíticas relevantes nos estudos organizacionais sobre o antropoceno, pois contribuem para a compreensão da organização de modos de vida rurais em espaços nos quais o turismo rural é uma prática econômica e cultural relevante.