No presente comentário, quero ter uma postura de "cavalo", como dizemos na umbanda, evocando vozes de outros/as que vêm dialogando com a perspectiva raciolinguística, desde meu lócus de produção de conhecimento. E, nesse movimento de Exu, quero tentar sulear um pouco a proposta de Nelson Flores e Jonathan Rosa, a partir de minha experiência como mulher negra acadêmica, que tenho vivido nos contextos brasileiro e colombiano. O que está por detrás dos discursos que valorizam as variedades estandarizadas nacionais? Haveria relação com marcadores sociais de diferença? Pois justamente a perspectiva raciolinguística traz uma nova lente para analisar dimensões outras desse debate, ancorada em perguntas sobre a relação entre linguagem, raça e colonialidade, buscando desvelar a supremacia branca implícita na posição de fala e escuta nos diálogos sociais.Em minha opinião, dita perspectiva entra a dialogar com uma agenda sólida de caráter político, teórico e metodológico para pensar os impactos do colonialismo na cotidianidade de nossos territórios. Embora reconheça o valor da perspectiva raciolinguística em nosso campo dos estudos da linguagem, quero ressaltar três elementos em nosso debate sobre racismo na América Latina que poderiam nutrir essa perspectiva: 1) a interdisciplinaridade, 2) o diálogo com agendas e conceitos dos movimentos sociais, e 3) uma pergunta constante pela interseccionalidade.A proposta de Flores e Rosa (2015) de desfazer a noção de adequação tem tido repercussão em velhos debates no cenário latino-americano sobre a relação entre linguagem e raça 1 . Reorientando o olhar sobre o racismo estrutural, os autores nos interpelam a reconhecer o legado histórico refletido na interação, no encontro, na zona de contato (Pratt, 1991). E justamente um dos pontos positivos do trabalho é enfocar-se no papel da linguagem na manutenção das ideologias raciais do ponto de vista das interações, sem perder de vista um olhar sociocultural, para explicitar a produção histórica implicada nesses conflitos. Assim, considero que, ao assumir que o estado-nação perpetua esses projetos coloniais que vêm moldando a formação linguística e racial na constituição dos sujeitos da modernidade, a perspectiva raciolinguística nutre ainda mais as compreensões sobre a intersecção nas identidades e corpos dos falantes. Um segundo ponto positivo da perspectiva raciolinguística é sua capacidade de explicitar a ideologia do déficit, como uma categoria analítica prolífera para entender as hierarquias 458