Resistência E Práxis Na Greve Dos Professores Da Rede Pública Municipal Do Rio De Janeiro

Abstract

Resumo Este estudo tem por objetivo analisar as relações entre trabalho, educação e saúde na greve dos profissionais de educação da rede municipal do Rio de Janeiro, ocorrida no ano de 2013. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, a qual adotou, como técnica de investigação, a realização de entrevistas individuais e a pesquisa documental, com base na imprensa sindical. Foi escolhida a técnica de análise temática, e foram identificados três temas principais de interpretação, a saber: trabalho e defesa da educação pública de qualidade; aprendizado coletivo e pedagogia da luta; e luta coletiva pela saúde. No ângulo de compreensão da história, a greve materializou-se como espaço de questionamento acerca da situação do trabalho nas escolas e como movimento de luta em defesa da educação pública de qualidade. Do mesmo modo, a greve trouxe reflexões acerca da relação entre o trabalho docente e a luta pela saúde. Conclui-se que ações coletivas de trabalhadores são espaços de aprendizagem, de produção de conhecimento e intervenção em saúde. Trata-se de uma perspectiva ampliada de educação e saúde, como práxis pedagógica, que se processa na luta e na valorização da experiência coletiva do trabalho.

O trabalho docente na rede pública de ensino do estado de São Paulo

“…Da mesma forma, as perspectivas sociais, familiares e dos dirigentes do sistema educacional para que os professores tenham um desempenho que seja capaz de superar as diversidades culturais e sociais, sem lhes dar condições para atingi-lo, contribuem para gerar ansiedade, estresse e acabam por levar ao burnout. (SOUZA;LEITE, 2011LEITE, , p, 1116 Como destaca Huws (2017), dessa forma, são reproduzidos padrões de coerção invisíveis, internalizados nas relações sociais; isto é, a interpretação de relações de trabalho e de exploração a partir de critérios subjetivos, que turva as fronteiras entre trabalho e prazer, e que implica na ampliação e intensificação da jornada de trabalho, principalmente das mulheres -afinal, este imaginário faz parte do que se acredita serem predisposições femininas. Nas palavras da autora, Aqui, novamente, o que parece que simples distinção se torna notavelmente difícil de aplicar na prática.…”

“…Por exemplo, conforme os resultados da pesquisa de Souza (2016), professoras/es preferem se encaixar no mesmo nivelamento social de outros trabalhadores não-manuais, e, preferencialmente, funcionários públicos, como juízes etc. Para o autor, isso demonstra que, para essas/es professoras/es, o que os distinguiria de juízes ou médicos -profissões de grande prestígio social -seria o salário, e, em certo grau, o status, uma vez que, com o intenso processo de proletarização, o magistério vai perdendo o tradicional prestígio da categoria (SOUZA, 2016;TRÓPIA, 2016).…”

“…Somente através do desvelamento dentro das contradições e entre as dinâmicas do processo de trabalho e gênero podemos começar a ver quais os efeitos que essas resistências podem realmente ter. (APPLE, 1995, p. 46, destaque do autor) Ou seja, em sua leitura, o fato de haver resistências não significa que elas serão, necessariamente, progressistas -ao contrário, como já explicitado anteriormente, diversos estudos registraram processos de enfrentamento encampados por docentes cuja finalidade seria, por exemplo, estabelecer uma condição de diferenciação em relação a grupos de maior vulnerabilidade social (SOUZA, 2016).…”