Este artigo se centra nas narrativas e reflexões da escritora e ativista feminista Fatema Mernissi acerca dos encontros e fronteiras culturais e em sua tentativa de responder à questão: O que está em jogo no pensar e escrever entre o Oriente e o Ocidente? E ainda, em como diferentes respostas a tal questionamento podem oferecer quadros para um engajamento decolonial de "dupla crítica" frente a saberes totalizantes, sejam eles ocidentais ou não-ocidentais, sem com isso implicar no apagamento do lugar de fala e experiência dos sujeitos resistentes – aqui, mais especificamente, mulheres muçulmanas. Lança-se luz sobre um aspecto específico do trabalho da autora, a saber, sua tentativa de, através do emprego de estratégias narrativas criativas que mesclam autobiografia e ficção, criar condições para desafiar representações dominantes sobre o Oriente e sobre a mulher muçulmana e promover um trabalho de “transcodificação” – ou seja, a busca por construir novos significados sobre os antigos com o objetivo de expor as dimensões violentas desses encontros, mas também de pensar as possibilidades de diálogo com a diferença.