Introdução: A lesão renal aguda (LRA) é uma importante complicação no pósoperatório de cirurgia cardíaca em crianças, acometendo de 3 a 42% dessa população e piorando seu prognóstico. A população pediátrica, quando comparada à adulta, tem menos comorbidades associadas, além disso, no cenário clínico do pós-operatório de cirurgia cardíaca, o momento e a duração do evento que pode levar a LRA são conhecidos, o que torna esta população ideal, e por isso, objeto de interesse de estudo no contexto da LRA e seus fatores de risco. Objetivos: Estimar a frequência de LRA em crianças e adolescentes, submetidas à cirurgia cardíaca no Hospital Universitário Francisca Mendes (HUFM), identificar o perfil da população do estudo e fatores de risco intra e pós-operatório para LRA e comparar os critérios de AKIN modificado com KDIGO. Metodologia: Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo, no qual foram analisados prontuários de pacientes pediátricos submetidos a cirurgia cardíaca no HUFM, situado em Manaus, Amazonas, no período de setembro de 2014 a março de 2018. Foram utilizados os critérios de KDIGO e AKIN para diagnóstico de LRA e para determinar os fatores de risco para LRA e associação com desfechos clínicos foi utilizado a regressão logística uni e multivariável. Resultados: Dados de 305 pacientes foram analisados havendo discreto predomínio do sexo masculino (51,8%), média de idade de 3 anos e 2 meses, com DP 49,91 e média de peso de 11,56 quilos. A maioria era portador de cardiopatia não cianogênica (72,8%) submetido a cirurgia na categoria 2 de RACHS (40,7%). A incidência de LRA foi 36,4 %. A diálise foi realizada em 5,6% da população. O óbito ocorreu em 12,5% e a sobrecarga hídrica média foi de 4,3%. Na análise multivariada LRA apresentou associação positiva com ureia máxima (OR= 1.0452; p= 0.000) e negativa com peso em kg (OR= 0.9452; p= 0.000). Na análise de sobrevivência o grupo que apresentou LRA permaneceu mais tempo internado em comparação ao grupo que não desenvolveu LRA. A análise multivariada do desfecho diálise mostrou associação com CEC em minutos (OR= 1.0431; p=0.015) e ureia máxima (OR= 1.088; p= 0.000), enquanto pinçamento aórtico apresentou associação negativa (OR= 0.9185; p= 0.002). Para o desfecho óbito cardiopatia cianogênica (OR= 2.6225; p= 0.023), LRA (OR= 5.3364; p= 0.000) e diálise (OR= 4.2955; p= 0.014) demonstraram uma relação positiva. Ao contrário de cirurgia definitiva (OR= 0.2085; p= 0.001) que apresentou uma associação negativa. Uma vez categorizados, as variáveis que apresentaram significância estatística para óbito foram tempo de CEC > 126 minutos e escore inotrópico >90. Conclusão: A frequência de lesão renal aguda em crianças e adolescentes, portadoras de cardiopatia congênita submetidas à cirurgia cardíaca no Hospital Universitário Francisca Mendes foi de 36,4%. Não houve diferença significativa nas classificações de AKIN e KDIGO.