A água se define no espaço que percorre em seu ciclo, onde interage com o meio físico e os organismos vivos e, ao trocar energia movimenta-se solubilizando e arrastando materiais pela atmosfera, solo e subsolo. Do relacionamento com esse espaço resultam suas características de qualidade, disponibilidade e regime. Em intervalos de tempo e proporções diferenciadas a água se desloca desempenhando funções de manutenção de equilíbrio térmico e sustentação das mais diversas formas de vida. Nessas funções destaca-se o papel da "água verde", a fração da chuva que é retida pela vegetação e promove o crescimento da biomassa, que sustenta a vida e as futuras chuvas, ao prover a atmosfera de umidade. As práticas correntes na gestão da água se concentram na fração líquida visível, a "azul", que se acumula e escoa em aquíferos, rios e lagos, abastecendo populações e sustentando atividades econômicas, exceto a maior parte da agricultura, que depende apenas da fração "verde". Esse elo ressalta o papel de florestas, como a amazônica, em prover parte das chuvas do Sudeste brasileiro, região das mais críticas na relação disponibilidade / demanda de água. A manutenção desses ciclos tem crescentes desafios, parte deles constituída por decisões de natureza política e econômica, conhecidas como "teleconexões"; voltadas a práticas comerciais, criação de incentivos e realização de investimentos, capazes de determinar o uso e disponibilidade de água de localidades e países distantes. A escala da apropriação direta e indireta do território já ameaça os regimes hídricos conhecidos e afeta as condições de vida. Nesta tese parte-se da verificação dessas condições para propor a abordagem do 'espaço da água, pelo seu potencial de permitir a leitura compartilhada dos processos de transformação, seus protagonistas e resultados, na perspectiva de mobilizar esforços para reversão das ameaças que a água sofre, particularmente, nas grandes cidades. Esta é a situação observada na Região Metropolitana de São Paulo, que expande seu padrão de degradação do espaço da água para a Macrometrópole Paulista, e além. Essa ampliação evidencia a prioridade dada à expansão das atividades econômicas, em níveis que degradam e esgotam as fontes que abastecem a população. Essa prioridade é reiterada na gestão da grave crise que ela mesma produz. Por meio da alocação desigual das escassas reservas remanescentes se mantém o atendimento de grandes consumidores, a preços vantajosos; amplia-se a interrupção do suprimento das regiões mais pobres; cria-se sobretaxa para restringir o consumo dos que ainda recebem água; buscam-se novos mananciais sem proteger os atuais e sem reduzir perdas de água do sistema, e se assegura a distribuição de dividendos a investidores da empresa pública de saneamento. Como resultado, se reduzem as perspectivas de suprimento seguro, pioram as condições de vida da maior parte dos habitantes do estado e não se alteram as condições vigentes de apropriação do seu espaço da água.PALAVRAS CHAVE: Água; Espaço da Água; Região Metropolitana -São Paulo; M...