“Se você se aposentar e não continuar tendo prazer na vida, você vai se aposentar pra quê?": um estudo sobre o trabalho de docentes aposentados de uma IFES

Abstract

O presente artigo buscou investigar aspectos que influenciam docentes inativos de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES) no retorno ao trabalho. Foram entrevistados sete docentes que regressaram à Instituição depois da aposentadoria e, dentre eles, seis voltaram ao labor sem nenhuma vantagem financeira. Procurou-se analisar o significado dessa fase de transição para os entrevistados, e como se deu a decisão de retornar ou permanecer na Instituição após a aposentadoria. Constatou-se que, apesar de afirmarem que atualmente possuem uma rotina mais autônoma, alguns descrevem um cotidiano laboral bastante intensificado. Ao enfatizarem que a docência ocupa um lugar crucial em suas vidas, confirmam a relevância deste trabalho na constituição de suas subjetividades e a dificuldade de ruptura do vínculo laboral e de aceitação da aposentadoria.
 Palavras-chave: Psicodinâmica do Trabalho; Sentido do Trabalho. Aposentadoria; Subjetividade.

Permanecer na Universidade: Sentidos Atribuídos ao Trabalho por Docentes Aposentados

“…Contudo, o evento da aposentadoria também pode despertar sentimentos positivos, como a possibilidade da redução da carga de trabalho e uma rotina mais suave e flexível, conforme diz D4: "representa essa possibilidade de poder me dedicar exclusivamente ao que eu mais gosto de exercer dentro da minha profissão, continuar trabalhando e selecionar aquilo que eu mais gosto de fazer". Desta forma, o fato de não terem um vínculo formal com a instituição dá aos docentes aposentados a oportunidade de escolherem as atividades que mais estimam fazer, proporcionando um trabalho menos desgastante e mais prazeroso (Ribeiro et al, 2019).…”

“…Desse modo, os docentes relataram que o trabalho está fortemente associado às interações sociais adquiridas no ambiente laboral, conforme a participante D2 compartilha: "a gente que é docente, principalmente na medicina, passa muito tempo com eles (alunos) na preceptoria, no internato, na residência, isso cria um vínculo que é para a vida entre os formandos e os docentes". O receio de perda dos relacionamentos, da separação do grupo com o qual convive há muito tempo é recorrente entre os professores que solicitam aposentadoria (Nascimento et al, 2016;Ribeiro et al, 2019).…”

Depressão E Uso De Substâncias Psicoativas Entre Professores De Uma Universidade Pública

“…Algumas pesquisas têm constatado as repercussões que as mudanças na organização do trabalho e as condições de trabalho no ensino superior produzem na saúde do docente. Apesar de muitas manifestações deste adoecimento serem reconhecidas como inerentes a esta atividade laboral, observa-se que a depressão e o consumo de substâncias psicoativas despontam em vários contextos (Leite;Nogueira, 2017;Lima, 2010;Rates, 2018;Lopes, 2011;Oltávaro 2013;Barros, 2014).…”

“…Um estudo que buscou identificar a associação entre a sintomatologia depressiva e o uso de álcool entre servidores de uma universidade pública detectou que cerca um quinto dos trabalhadores (21,9%) apresentou sintomatologia ansiosa e/ou depressiva; 13,2% preencheram os critérios para serem classificados como pessoas em uso abusivo do álcool. O uso de substâncias psicoativas emerge como um meio para se debelar ou aliviar tensões e sofrimentos porque seus efeitos são alcançados em curto espaço de tempo (Lopes, 2011;Cortez et al, 2017).…”