ResumoO grau em que movimentos sociais podem se desenvolver associados a partidos políticos é uma questão relevante para a democracia participativa. Este artigo examina os efeitos ambíguos da aliança estabelecida entre jovens artistas e políticos profissionais numa grande cidade do interior paulista, no início dos anos 2000. O artigo explora uma abordagem interacionista da militância, percebendo-a como atividade social dinâmica e sublinhando sua dimensão temporal. Apoiando-se em entrevistas, o artigo mostra como a relação estabelecida entre jovens e um partido político contribuiu efetivamente para a construção do movimento hip hop da cidade. Progressivamente, no entanto, o crescente engajamento com as atividades partidárias dificultou uma maior dedicação à carreira artística por parte dos jovens, fazendo aumentar sua dependência com relação aos benefícios distribuídos pelo partido e, consequentemente, gerando disputas entre eles. Ocorrendo no período em que ingressavam na vida adulta, o processo culminou com a dissolução do grupo. Ao mostrar como essas relações se desenvolveram, o artigo revela as possibilidades e limites associados à interdependência entre movimentos sociais e partidos políticos, principalmente nos casos em que tais partidos assumem o governo.
PALAVRAS-CHAVE
I. Introdução 1A análise da trajetória do grupo de jovens rappers negros que fundou o movimento hip hop na cidade de Campinas, nos anos de 1990 e início dos anos 2000, oferece elementos para compreendermos os obstáculos encontrados por ativistas para constituir uma força política durável. Foi esse grupo que liderou a criação de uma associação de rappers e, posteriormente, a aglutinação de outros segmentos do hip hop em torno de projetos comuns na esfera artística e política.A partir de uma abordagem indutiva, inspirada numa perspectiva processual do ativismo, o artigo problematiza o final dessa história, isto é, a fase em que o grupo se desmobiliza, reunindo elementos que permitem compreender as forças que levaram ao processo de desengajamento dos jovens do movimento hip hop e, particularmente, do ativismo em torno das políticas culturais do município, desenvolvido até ali por meio da associação a um partido político.Segundo Fillieule (2001) a partir da tradição interacionista, principalmente aquela associada a Hughes (1958) e Becker (1963, essa abordagem permite pensar o ativismo como uma atividade social e dinâmica, inscrita no tempo, como uma carreira (Becker & Strauss 1956). Assim, para ser compreendida, é necessário adotar uma perspectiva longitudinal que permita tornar inteligível tanto a sucessão das fases quanto as mudanças de comportamento e de perspectiva vivenciada pelos indivíduos. Isso é o que torna possível identificar os mecanismos associados às transformações vivenciadas por eles, bem como a pluralidade de universos em que os próprios ativistas estão inscritos 2 .